segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amy Winehouse não era uma Lady Gaga

Tudo indica que a artista era autêntica  


             Por Lais Amaral
  
Toda geração tem a sua Janis Joplin. E a cantora inglesa se foi, mergulhada no abismo da própria incompreensão do mundo em que pouco viveu.

Ela não fazia tipo e nem era uma personagem. No máximo uma auto-caricatura assinada por ela mesma.

O artigo abaixo pinçado do blog de Nirlando Beirão mostra um rápido perfil de Amy Winehouse, muito do que seus fãs pelo mundo já estão cansados de conhecer.

Mas sugere, que abaixo da ponta do iceberg, deveria existir um porão repleto de fantasmas.

Ninguém pede para ser infeliz.   
 


Nirlando Beirão
Amy Winehouse parecia ter, dentro daquele corpinho frágil, quebradiço, uma negona americana, dessas que soltam o berreiro no gospel ou se esgoelam no melhor rhythm & blues.
Experimente ouvir de olhos fechados Mr. & Mrs. Jones, que está no álbum de maior sucesso dela, Back to Black (de 2006). E também Rehab. E tantas outras.
Ninguém haveria de dizer que a voz vem de uma criatura tão esquálida, tão dramaticamente indefesa, tão desesperadamente carente – uma inglesinha criada num bairro periférico de Londres, de família de classe média baixa e limitadas perspectivas de vida.
Southgate, o bairro em que ela nasceu e que a explica bastante, a ela e à música dela, fica no norte de Londres, apesar deste South, Sul, aí do nome.
Tem um setor agradável, arborizado, de casas afluentes, e um centro movimentado, de mistura étnica e atmosfera proletária.
O bairro tem sua peculiaridade no número de sinagogas (Winehouse era de origem judaica), de maçons, de indianos ricos e de pubs, e olha que estamos falando de Londres, a capital mundial dos pubs.
Andei pesquisando as fotos dela. Não há uma única em que ela apareça sorrindo de forma plena, espontânea.
“A menina triste” (como a imprensa inglesa a chamou, nos necrológios prontos com enorme e previsível antecedência) não conseguiu suportar a luminosa explosão de seu próprio talento e o preciosismo radicalmente atormentado que, se serviu de alimento para sua feroz criatividade, também acabou por levá-la à autodestruição.
O bicho da depressão a comeu por dentro. E a exigência que ela – de aparência tão desleixada – tinha consigo mesma.
Amy Winehouse deixa obra pequena se comparada a outras estrelas pop que partiram cedo como ela, Jim Morrison, Kurt Cobain, Janis Joplin. Mas, na qualidade, faz parte do primeiro time.
Vermeer não chegou a pintar 40 quadros em toda a sua vida e os holandeses o colocam no mesmo nível de Rembrandt e de Van Gogh. James Dean fez três filmes, e está no panteão de Hollywood. Elizabeth Bishop desponta entre os três maiores poetas americanos do século 20 tendo escrito apenas 50 poemas.
Amy Winehouse nunca chegou a divulgar o tão prometido terceiro álbum.
A arte não se mede por centimetragem.