domingo, 26 de agosto de 2012

Ministro Lewandowski conserta erros comprometedores de Gurgel e Joaquim Barbosa, diz Jânio de Freitas


          Coluna deste domingo, 26.08 do jornalista Jânio de Freitas, no jornal Folha de São Paulo. Jânio é considerado hoje o decano dos colunistas políticos e respeitado por sua isenção. E trabalha na Folha, jornal que tem como poucas virtudes, a de manter em seu elenco, articulistas que discordam da sua linha editorial.(Lais Amaral)   


Janio de Freitas: Folha de São Paulo
26/08/2012
Dois erros comprometedores da acusação, cometidos e repetidos pelo procurador-geral Roberto Gurgel e pelo ministro-relator Joaquim Barbosa, no julgamento do mensalão poderiam ser muito úteis aos ansiosos por condenações gerais, prontos a ver possíveis absolvições como tramoia.
A acusação indicou que a SMPB, agência publicitária de Marcos Valério, só realizou cerca 1% do contrato de prestação de serviços com a Câmara dos Deputados, justificando os restantes 99%, para efeito de recebimento, com alegadas subcontratações de empresas.
A investigação que concluiu pela existência desse desvio criminoso foi da Polícia Federal, no seu inquérito sobre o mensalão. Iniciado o julgamento, várias vezes ouvimos e lemos sobre o desvio só possível com o conluio entre a agência e, na Câmara, interessados em retribuição por sua conivência.
O percentual impressionou muito. Mas o desvio não foi de 99%.
O ministro Ricardo Lewandowski, revisor da acusação feita pelo relator e, por tabela, da acusação apresentada pelo procurador-geral, deu-se ao trabalho de verificar os pagamentos feitos pela SMPB, para as tais subcontratações referidas pela acusação.
Concluiu que os pagamentos por serviços de terceiros, alegados pela agência, estavam bastante aquém do apresentado na acusação: cerca de 87% do contratado com a Câmara.
Como admitir que um inquérito policial apresente dado inverídico, embora de fácil precisão, com gravíssimo comprometimento das pessoas investigadas?
E como explicar que o Ministério Público, nas pessoas do procurador-geral e dos seus auxiliares, acuse e peça condenações sem antes submeter ao seu exame as afirmações policiais? E o que dizer da inclusão do dado inverídico, supõe-se que também por falta de exame, na acusação produzida pelo relator? Isso já no âmbito das atribuições do Supremo Tribunal Federal.
O erro de percentual está associado a outro, de gravidade maior. Assim como não houve os 99%, não houve a fraude descrita na acusação, ao que constatou o ministro revisor.
Os pagamentos às supostas empresas subcontratadas foi, de fato, pagamento de publicidade institucional da Câmara de Deputados nos principais meios de comunicação, com o registro dos respectivos valores. O percentual gasto foi adequado à média de 85% citada por publicitários ouvidos para o processo.
Faltasse a verificação feita pelo revisor Lewandowski, o dado falso induziria a condenações -se do deputado João Paulo Cunha, de Marcos Valério ou de quem quer que fosse já é outro assunto.
Importa é que, a ocorrer, seriam condenações injustas feitas pelo Supremo Tribunal Federal. Por desvio de veracidade.
Uma das principais qualidades da democracia é o julgamento que tanto pode absolver como condenar, segundo os fatos conhecidos e a razão. É o que o nosso pedaço de democracia deve exigir do julgamento do mensalão.
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domingo, 19 de agosto de 2012

Editor de Veja pode ser convocado pela CPI do Cachoeira






Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”. Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard.

         "A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro."  Noam Chomsky.

           
Por Lais Amaral 
replicando artigo de Eduardo Guimarães
          
          O Blog da Cidadania do Eduardo Guimarães, apurou na terça-feira passada que a bancada do PT na CPMI do Cachoeira deve votar em bloco a favor do requerimento do deputado Doutor Rosinha (PT-PR) para que, inicialmente, seja convocado o diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior. E que haveria a intenção de convocar, numa segunda etapa, o dono da revista, Roberto Civita.
          PC do B, PSOL, PSB e PTB (Fernando Collor) devem votar com o PT pela convocação. Mas como a Comissão precisa de ao menos 15 votos para aprovar o requerimento e os partidos dispostos a votar pela convocação do jornalista somam 11 parlamentares, os 4 votos restantes terão que ser obtidos junto ao PMDB.
          Segundo a fonte na CPMI, esses votos ainda não foram conseguidos porque o PMDB está hesitando. Por conta disso, o requerimento do doutor Rosinha deve ser apresentado na sessão desta terça-feira da CPMI, mas a votação só ocorrerá quando os partidos favoráveis à convocação tiverem maioria.
          O que estimulou a união do PT e a adesão de partidos aliados em favor da convocação foi a reportagem de capa da revista Carta Capital, assinada pelo repórter Leandro Fortes, que revelou escutas da Polícia Federal no âmbito da extinta Operação Vegas, arquivada pelo procurador-geral da República.
          A reportagem de CC mostra degravação de escuta da PF em que o jornalista Policarpo Júnior aparece pedindo ao bicheiro Carlos Cachoeira para que faça gravação ilegal de um parlamentar. Outras escutas revelariam relação de promiscuidade entre a quadrilha e o jornalista.
          A primeira fonte que o blog ouviu não tem como afirmar que a bancada do PMDB na CPMI irá aderir ao bloco favorável à convocação de Policarpo. Uma segunda fonte ouvida informa que a pressão sobre os peemedebistas para que não adiram ao requerimento parte do vice-presidente da República, Michel Temer.
          Na segunda-feira, outras fontes do blog informaram que Temer se reuniu com o presidente das Organizações Globo, José Roberto Marinho, e o diretor da revista Veja, Fábio Barbosa, e com eles firmou pacto de não agressão que pressupõe a não convocação de Policarpo pela CPMI. O pacto teria o aval da presidente Dilma Rousseff.

domingo, 12 de agosto de 2012

Compra de votos para reeleição no Governo FHC foi o maior escândalo político da história recente





Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.   Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard



Por Lais Amaral

          O jornalista Jânio de Freitas, da Folha de São Paulo considerado o decano dos colunistas políticos do país e respeitado pela proverbial isenção, deu entrevista ao Roda Viva, da TV Brasil na segunda-feira passada, dia 6/8, e jogou por terra alguns mitos do falso jornalismo, criticou a Grande Imprensa na cobertura do chamado "Mensalão", etc.

          JF afirmou também que a compra de votos para aprovação do projeto de reeleição no Governo FHC, foi o maior escândalo político após a redemocratização do país. Confira a entrevista no link abaixo que também foi replicada no Blog ada Cidadania, do Eduardo Guimarães.  

           
http://www.blogdacidadania.com.br/2012/08/colunista-da-folha-diz-que-midia-foi-s\
uporte-politico-de-fhc/

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Articulista global também não vê provas contra Mensalão


Por Lais Amaral

       Para não dizer que estou republicando articulistas 

de esquerda ou coisa parecida, leiam o interessante artigo 

de Paulo Moreira Leite, que é jornalista da Revista  Época, 

das Organizações Globo, e que destoa amplamente das 

matérias veiculadas e repetidas ad nausean nos telejornais globais.  

“Faltou muita coisa” no mensalão

Debora Bergamasco publica uma entrevista muito instrutiva 
com Osmar Serraglio, o deputado que foi relator da CPI 
dos Correios, a primeira em três que investigaram o mensalão.
Serraglio afirma:

“Faltou muita coisa, muito do que eles ficam batendo 
agora que ‘não tá provado isso, não tá provado aquilo’ 
é porque a gente estava amarrado, não tínhamos 
liberdade. Hoje, por exemplo, o José Dirceu fala que 
ele não tem nada a ver com isso. 


Nós poderíamos ter feito provas muito mais contundentes 
em relação à evidente ascendência que ele tinha”, diz Serraglio.

Ele também diz que na CPI os petistas agiam para 
dirigir as investigações para o terreno em que lhes 
interessava. Por exemplo: pressionavam para que se 
procurasse pela origem do dinheiro que Delúbio Soares 
e Marcos Valério distribuíam e não pelo seu destino.

O depoimento é instrutivo pelo que diz e também pelo 
que dá a entender. Ao admitir que “faltou muita 
coisa” o deputado reconhece que  apesar de todo 
o esforço realizado na época, não se conseguiu avançar 
na produção de provas contra Dirceu e outros acusados.

O argumento de que a liderança política de Dirceu 
atrapalhou a investigação faz sentido. Também 
acredito que os deputados da bancada governista 
não ajudaram a investigar seu próprio governo.  


Mas  eu acho que isso sempre faz parte do jogo 
em toda CPI, desde a Idade das Cavernas, não é mesmo?

Seja pelo motivo que for, a alegação de Serraglio 
coloca um problema para a acusação. Equivale ao 
reconhecimento de que tem dificuldade para apresentar 
provas para o julgamento.


Essa avaliação não é nova.

Num texto que publiquei aqui, semanas atrás, dizia 
que a tese principal do mensalão, como um sistema 
de compra de votos no Congresso, não estava 
demonstrado no inquérito da Polícia Federal sobre o caso.


Não fui o primeiro a sustentar isso. O jornalista Lucas 
Figueiredo, autor de O Operador, sobre Marcos Valério, 
que fez várias revelações importantes sobre o caso, mostra que o mensalão “não foi provado”—Lucas já dizia isso em 2006.

Jânio de Freitas, um dos grandes mestres do jornalismo,  
escreveu na segunda-feira que é possível sustentar 
que Dirceu é o chefe do mensalão com a mesma 
consistência que se poderia dizer que o chefe era 
Antonio Palocci, pois não há prova alguma contra nenhum 
dos dois neste caso.


Esta é a questão. Muito do que se disse não 
se provou. Por que?

Se você conversar com a bancada do PT, irá concluir que 
não se provou porque não havia o que deveria ser provado. 
O mensalão era o nome para os conhecidos esquemas 
de financiamento de campanhas eleitorais.

Mas há explicações técnicas que ajudam a entender 
porque as investigações não avançaram mais, evitando 
a constatação de que faltou muita coisa,” como diz Serraglio.

Uma observação possível  é que faltou um acordo para 
a delação premiada. Roberto Jefferson deu grandes 
entrevistas e fez ótimos discursos, mas, como disse 
Fernando Henrique Cardoso, ele “teatralizou o mensalão.”

Um delegado me assegura que tudo teria sido muito 
diferente se Marcos Valério, em vez de perseguido de 
modo implacável, tivesse recebido a oferta de salvar 
a própria pele na hora certa – e passado a agir como aliado das investigações, em vez de proteger-se como acusado.

O que ele poderia contar? Aquilo que a oposição espera? 
Aquilo que o governo sustenta? Não se sabe. Seja como for, 
é tarde demais.

O Supremo irá julgar o mensalão com aquilo que está nos 
autos. Será um julgamento técnico e político.


Técnico, porque não se trata de uma corte de aloprados. 
E político, porque o STF tem a função de defender a 
Constituição – e essa missão é política.

Quando se fala no aspecto político,  pode-se pensar 
em várias hipóteses. Uma delas, a que parece mais óbvia, 
seria atender a um clamor  contra a corrupção e contra 
a impunidade.

Mas também é uma atitude política considerar que, 
apesar deste clamor, convém afirmar outro valor, 
de que é preciso julgar com isenção, a partir de provas 
claras e bem fundamentadas. Este é o debate real 
no julgamento.

Leia meu artigo anterior sobre o mensalão:

http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite
/2012/05/30/verdades-incomodas-sobre-o-mensalao/

Jornal tucano admite falta de provas no Mensalão



Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.   Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard


Por Lais Amaral

No artigo abaixo, o blogueiro Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania) analisa o editorial da Folha de São Paulo de domingo passado (dia 29/07), no qual o jornal amigo do PSDB admite não haver provas suficientes para enquadrar os supostos envolvidos com o chamado 'mensalão'. Leiam:  



Não pode passar despercebido um texto jornalístico que, por si só, antecipa o fim do julgamento do mensalão. Trata-se de editorial da Folha de São Paulo publicado em sua última edição dominical sob o título “À espera do mensalão”. A certa altura, o texto desmente tudo o que a mídia ligada ao PSDB vem afirmando há anos.
Esse veículo de comunicação que, depois da revista Veja, é o mais identificado com a oposição ao PT e ao governo Dilma, a dias do início do julgamento já reconhece que não há provas de que houve compra de parlamentares e uso de dinheiro público por ação da cúpula do partido.
Desprezando alegorias do texto destinadas a conferir grandiosidade a julgamento que, segundo um ministro do STF (Ricardo Lewandowsky), não teria caráter político se não fosse a pressão da mídia, há que analisar, um a um, os trechos que interessam a fim de chegar àquele que mais interessa.
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Da Folha:
“(…) De acordo com a PGR [Procuradoria Geral da República], o mensalão foi um esquema ilegal de financiamento político organizado pela cúpula do PT para garantir apoio ao governo comprando votos no Congresso Nacional em 2003 e 2004, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A acusação sustenta que o mensalão foi alimentado com recursos públicos desviados pelas agências de publicidade do empresário Marcos Valério em meio a supostos empréstimos dos bancos Rural e BMG. O esquema teria distribuído ao menos R$ 43 milhões ao PT e mais quatro partidos aliados (…)”.
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O caráter político do julgamento do mensalão é a sua grande fraqueza. E tal caráter foi conferido pelo indiciamento daquele que, à época dos fatos, ocupava o segundo posto mais importante do governo Lula: o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.
A tese de que Dirceu organizou um esquema de compra de apoio parlamentar para o governo Lula na Câmara dos Deputados usando dinheiro público imputa àquele governo a autoria intelectual do crime. Assim sendo, caso Dirceu não seja condenado a tese em questão simplesmente desmorona.
Continuemos a leitura dos trechos que importam no editorial.
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Da Folha:
“(…) A gravidade do ocorrido pode ser medida pelas palavras do próprio Lula. Não as de hoje, calcadas na tese hipócrita de que se tratou de uma farsa golpista. Melhor confiar nas que foram proferidas no calor da hora, quando o então presidente se mostrava bem mais realista.
Em pronunciamento no dia 12 de agosto de 2005, pouco mais de dois meses após o ex-deputado Roberto Jefferson revelar o mensalão em entrevista a Renata Lo Prete, nesta Folha, o ex-presidente afirmou que se sentia ‘traído por práticas inaceitáveis’ (…)”
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Dez em cada dez comentários da imprensa aliada ao PSDB sobre o mensalão usam essa frase de Lula proferida em entrevista que concedeu ao programa global “Fantástico” em viagem que fez à França à época do estouro do escândalo.
A mídia oposicionista e seus colunistas tentam transformar essa frase em admissão de que o que aconteceu foi compra de votos pelo governo federal com uso de dinheiro público, quando o que Lula disse, à época, foi que houve, sim, práticas ilegais, mas foram de uso de “caixa 2” e, por isso, considerou-as inaceitáveis. Apenas isso.
Agora, por fim, chegamos ao ponto principal do editorial da Folha. Leia com atenção porque, após tanta repetição de chavões pela mídia de 2005 para cá, é a primeira vez que ela assume fatos que vêm sendo informados por blogs como este desde aquela época.
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Da Folha:
“(…) Evidências colhidas em sete anos de investigações, entretanto, não seriam suficientes, aos olhos de alguns especialistas, para caracterizar a ilicitude em duas questões centrais: a finalidade do esquema e a natureza dos recursos.
Não há nos autos elementos que sustentem de forma inequívoca a noção de que o objetivo do mensalão era comprar respaldo no Congresso. Sem a demonstração de que os pagamentos foram oferecidos em troca de apoio parlamentar, perdem alguma força as acusações de corrupção.
Quanto ao dinheiro, o STF precisará se pronunciar sobre sua origem, se pública ou privada. Comprovar o desvio de recursos públicos é pré-requisito para algumas acusações de lavagem de dinheiro, por exemplo(…)”
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Ora, acabou o julgamento. Ao menos no que tange à tese de compra de apoio parlamentar e uso de dinheiro público, deixando, “apenas”, acusação de formação de caixa 2 àqueles que sacaram dinheiro “não contabilizado” na boca do caixa, desvio que certamente ocorreu e que tem que ser punido.
Chega a ser constrangedor, portanto, ter que escrever o que vai a seguir, mas é importantíssimo que as pessoas entendam a filosofia jurídica que embasa o Estado Democrático de Direito.
In Dubio Pro Reo é uma expressão latina que significa, literalmente, que, na dúvida, a Justiça deve sempre decidir a favor do réu. Essa expressão traduz o princípio jurídico da presunção da inocência. É um princípio consagrado em TODAS as democracias dignas do nome.
Em caso de dúvida (por exemplo, insuficiência de provas) não pode haver condenação do réu. É um dos pilares do Direito penal e está intimamente ligado ao princípio da legalidade.
O princípio In Dubio Pro Reo se aplica “Sempre que se caracterizar uma situação de prova dúbia, pois a dúvida em relação a existência ou não de determinado fato deve ser resolvida em favor do imputado.” (apud SOUZA NETTO, 2003, p. 155).
A dúvida da autoria de um delito, assim, não está nas provas produzidas, mas na mente de quem as julga. A dúvida não é a causa e motivo de absolvição, mas falta de elementos de convicção que demonstrem ligação do acusado com o fato delituoso.
É nesse ponto que o editorial termina de enterrar a condenação ao menos de José Dirceu e, por conseguinte, a teoria de um esquema institucionalizado de compra de votos de parlamentares com uso de dinheiro público.
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Da Folha:
“(…) Parece muito provável que o mensalão tenha envolvido desvio de verbas públicas, boa parte das quais foi distribuída por próceres do PT entre correligionários e aliados. E mesmo que fosse apenas para saldar dívidas de campanha, que outro objetivo haveria nos pagamentos se não o de aliciar apoio (votos) no Congresso? (…)”
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O vício no pensamento do editorialista é flagrante e se deixa trair pelo uso de um verbo. Parecer “provável”, segundo o melhor Direito, é insuficiente para destruir a vida de alguém, ou seja, para condenar um réu à prisão e à execração pública.
Se apenas parece “provável” que houve desvio de verbas públicas, por que o editorialista escreve que parte delas “foi distribuída por próceres do PT”? Não seria mais correto dizer que parte das verbas “teria sido” distribuída? Não há nem concordância do texto com ele mesmo, pois.
O assunto mensalão ocupou cerca de 70% dos cadernos de política dos grandes jornais do domingo que antecede o início do julgamento. Tudo o que esses veículos publicaram não passa de opinião e especulação, na base do “parece”, “é provável” etc. Todavia, o editorial da Folha se diferencia porque, pela primeira vez em cerca de sete anos, um dos braços da imprensa ligada ao PSDB reconhece ausência de provas do mensalão.
Alguns dirão que foi uma escorregada, mas não foi. Após tantos anos garantindo que haveria certeza de que houve compra de votos de parlamentares e uso de dinheiro público, a mídia tucana parece querer deixar uma porta aberta por onde escapar caso o julgamento do STF seja técnico e não político, como ela quer.
Aliás, como curiosidade, vale citar matéria da mesma Folha também deste domingo que repete afirmação que este blog fez no último dia 10 de julho no post Se pressionar STF for “crime”, PIG pode “vestir” as algemas. Nesse post, o blog afirmou que o julgamento do mensalão assemelha-se ao do ex-presidente Fernando Collor.
Como se sabe, Collor foi absolvido por falta de provas. Afinal de contas, In Dubio Pro Reo.

Por que a Velha Mídia Odeia José Dirceu ?





O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, artífice das mudanças no país  

Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.   Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard

Por Laís Amaral


Artigo publicada por Conceição Lemes em 18 de janeiro na Política e republicado pelo blog Viomundo, de Luiz Carlos Azenha. Também publique o artigo em janeiro deste ano e republica, porque começou o circo montado pela Velha Mídia Comercial, em especial as organizações Globo e a Veja sobre o julgamento do Mensalão. 

A pressão sobre o STF para que sejam crucificados políticos petistas ou mais precisamente José Dirceu e vergonhosa. Leia o artigo abaixo. José Dirceu incomoda os canalhas de sempre.    

Por Gilson Caroni Filho


Em raras ocasiões, na conturbada história política brasileira, houve tamanha unanimidade em  torno de qual deve ser o destino de um ator político relevante.  

Diariamente, em colunas e editorias dos jornalões, em solenidades com acadêmicos e políticos de extração conservadora, em convescotes de  fim-de-semana da burguesia "cansada", todos os que chegam aos holofotes  da mídia proferem a mesmíssima sentença: é preciso banir de uma vez por  todas da vida pública o ex-ministro José Dirceu.

O comando dessa unanimidade é pautado por um curioso senso de urgência.  Não há pressa para atenuar os problemas estruturais do país e suas estruturas arcaicas. Só se fala em ação imediata quando o assunto é condenar o  “chefe da quadrilha”, montada a partir do Palácio do  Planalto para comprar apoio político no Congresso.

Poucas vezes, em um  lance da política, tantos conseguem perder ao mesmo tempo e na mesma  dimensão. Na sua sanha inquisitorial, a grande imprensa dá mostras de  pusilanimidade, de um espetáculo de fraqueza para dentro de si mesma e  de leviandade para fora. Sai em frangalhos, mas persevera no que  considera  uma questão de honra.

Pouco importa que falte materialidade e provas, é preciso requentar o noticiário para criar condições políticas que permitam ir adiante. Mas afinal o que move o ódio a José Dirceu?

O que o torna inimigo público de um esquema de forças que, em passado recente, foi impecável em sua trajetória de encurralar o país, em nome do desvairado fundamentalismo de mercado?

Desde 2002, paira sobre Dirceu o estigma de maquiavelismo. Seria apenas um homem de poder,  basicamente orientado para sua conservação, um homem  do contingente, que não faz  política para a história?

Os fatos e o decurso do tempo respondem à acusação.  O que torna impossível à grande imprensa aceitar um retrato favorável do ex-ministro é a sua originalidade como operador político de esquerda.

        Todos sabemos que um fato notável da política brasileira é que, apesar de sucessivos deslocamentos políticos, desde a redemocratização do país,  a hegemonia dos processos de transição encontra-se com a mesma  burguesia, condutora do golpe de 1964.

Hábil nas transações com o capital estrangeiro, das quais auferiu vantagens para fortalecimento próprio, a burguesia brasileira não foi menos sagaz no manejo do jogo  político.

Comprova-o a obra-prima que foi a eleição de Tancredo Neves (por mecanismo antidemocrático imposto pelo regime militar), os anos Collor e  os dois mandatos de FHC.

Para termos noção do que isso representou, até o PT, oposto à coligação tancredista, não deixou de sentir a sua pressão, que lhe provocou rachaduras parlamentares e perda de apoio em setores expressivos da classe média.

Desde a política de alianças que levou Lula à presidência, em 2002, às articulações na Casa Civil, Dirceu frustrou expectativas que alimentavam  os cálculos das elites desde sempre encasteladas nas estruturas do  Estado.

O PT que chegava ao poder seria um partido atordoado por suas divisões internas e mergulhado em indefinições estratégicas. Um desvio de curso que não teria vida longa.

A direita apostava na incapacidade do PT em administrar o pragmatismo de um estado corrupto e patrimonialista, como o nosso.

Lembram-se do Bornhausen e do Delfim? Previam, no máximo, dois anos de governo para o PT em meio a crises institucionais. Coube ao Zé Dirceu, o "mensaleiro", a função de viabilizar a governabilidade de Lula e não permitir que esse governo fosse vítima de crises agudas e sucessivas.

Quando Dilma Vana Rousseff, oito anos depois, foi eleita a primeira mulher presidente da República do Brasil, com mais de dez pontos de vantagem sobre seu adversário, José Serra, muitos exaltaram a força  do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Do alto de seu capital político, Lula teria passado por cima do PT, escolhido sua candidata e conseguido eleger como sucessora uma ex-assessora de perfil técnico, estabelecendo um fato inédito: o terceiro mandato presidencial consecutivo para um mesmo partido eleito democraticamente.

Nada disso está incorreto, mas peca pela incompletude.  Ferido, contundido nos seus direitos, o operador político José Dirceu teve um  papel fundamental para o aprofundamento da democracia brasileira. 

Talvez, quando o então presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, confirmou oficialmente a vitória de Dilma, Dirceu tenha cantarolado os versos de Aldir Blanc: “Mas sei / que uma dor assim pungente / não há de ser inutilmente”.

Questões de justiça são questões de princípio. Ao contrário do que pensam a imprensa golpista, seus intelectuais orgânicos e acadêmicos subservientes.