sexta-feira, 11 de março de 2016

A histórica entrevista coletiva de Lula, dia 4 de março


A histórica coletiva de Lula dia 4 de março depois de depor no aeroporto de Congonhas na vergonhosa 'condução coercitiva' determina pelo juiz Sergio Moro da Operação Lava Jato. Agora quando acusam Lula de ter, a partir dessa entrevista, ter incendiado o país e por isso ter sido indiciado por um demente de um promotor de São Paulo.  assistam, é excepcional.   


https://www.youtube.com/watch?v=M1FFrP95F0s&ebc=ANyPxKraL8QgZcPQsy06xzyrnNfb_LZC7SsEd2K5mShPmpSlezY1oSrr2vJ-w3gO4Bk2OU6JnjZkPICTWGvbs9KaahxuiFU-yw

REDE GLOBO - INIMIGA Nº 1 DO BRASIL


Ato dia 7 de março realizado no Sindicato dos Jornalista de São Paulo contra o monopólio da Rede Globo e sua influência na atual conjuntura.   



https://www.youtube.com/watch?v=vn4yytGkIuY

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Lula fala aos blogueiros em longa entrevista






Mais uma grande entrevista de Lula aos blogueiros, 
veja no link abaixo: 


https://www.youtube.com/watch?v=AHuMzLpvWVw



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Carta a um jovem classe média envenenado








"A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro."  Noam Chomsky.

Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

 "A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard.




Por Laís Amaral

Antes de tudo, devo dizer que não o culpo por suas reações decepcionantemente conservadoras para um jovem. Pelo menos aos olhos de quem era bem jovem, quando sofreu influências determinantes de uma década revolucionária sob muitos aspectos, como foram os anos 60 do século passado.

Também não me considere pedante ou arrogante quando digo que sua reação provavelmente é resultado de um estado de fragilidade, fruto de alguma ignorância sobre História do país e do mundo. E aí, nem me refiro a algo mais específico como a História Política. Você não tem culpa e acredite, não é nada pessoal.

Esse seu desconhecimento certamente dificulta entender o que ocorre hoje como consequência do ontem. Talvez seja difícil para você, meu jovem, perceber, que muito do que vê, ouve e lê produzido por nossas corporações midiáticas, seja apenas o reflexo do que pensam e desejam os poucos donos desse imenso país.

As corporações de Mídia, cujo número de empresas se conta nos dedos de uma das mãos, é um oligopólio que detém e direciona a informação de acordo com seus interesses e o de seus donos. Um absurdo raro no mundo e num país de dimensões continentais e pluricultural.

        Esses donos, meu jovem, são os mesmos da classe dominante que começou a ser forjada a partir da distribuição de sesmarias e capitanias hereditárias a “nobres” e apaniguados do Poder absolutista que imperava por aqui. Um horrendo embrião de colonização, o alicerce de uma tosca sociedade excludente e autoritária.       

         Essa ‘casta’ foi, através dos tempos, acumulando poder e riqueza, grande parte à custa do trabalho e da dor do negro escravizado, do índio vilipendiado e com a condescendência da Igreja de então. E mais modernamente à custa da exploração do trabalhador. Assim formou-se uma elite patrimonialista, egoísta e prepotente.

        A desinformação ou a má informação criaram em você um jeito de olhar que culminou em reações destemperadas e violentas ultimamente. Você se enche de ódio contra um Governo que, como estão te ensinando, quer tomar o que sua família conquistou por mérito e justiça por anos de trabalho. E a propósito, você já ouviu alguém dizer que foi Deus quem criou pobres e ricos, não é mesmo ?   

Por isso quando leio um tweet seu, clamando pela morte da Presidente da República ou chamando filiados do PT de malditos comunistas e coisas pouco compreensíveis e, por vezes contraditórias, me esforço para entender, mas confesso que nessas horas sou sequestrado por fortes e incômodos sentimentos.

Primeiro sinto pena por ver nobres ideais de juventude toldados por questões que certamente não seriam as suas, caso tivesse uma visão mais abrangente do mundo e do contexto que te envolve.  

Em seguida vem a apreensão por imaginar que você represente a precoce deterioração de gerações que se rendem a valores nada nobres. E, por saber que esses valores quando  sobrevivem até à fase adulta, costumam gerar muita dor e muito mal à Humanidade.

Seja feliz. Mas pelo menos tente imaginar como a felicidade é mais saborosa quando muito mais gente também está sendo feliz.

Um abraço.


                                                    

sábado, 3 de outubro de 2015

IBOPE infla audiência da Globo ? Cabe CPI !



          "A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro."  Noam Chomsky.


Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”. Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard.

Por Altamiro Borges (do Blog do Miro)

         O jornalista Ricardo Feltrin fez uma grave denúncia nesta semana - reforçando antigas suspeitas que circulam entre os especialistas em tevê no país. Ele revelou em sua coluna no UOL que "os primeiros dados apurados pela empresa alemã GfK, que começou a medir o público da TV brasileira, apontam que a audiência de emissoras como Record e SBT é maior do que a registrada até hoje pelo Ibope".

         A denúncia impacta os anunciantes privados, que sempre se basearam no Ibope para investir bilhões em publicidade. Mais do que isto. Ela incomoda o governo federal, que nos últimos 12 anos repassou quase R$ 6 bilhões para a Globo. Houve fraude do Ibope - já batizado de Globope - para beneficiar a famiglia Marinho? Não seria o caso de instalar uma CPI para apurar a fraude com recursos públicos?

         De acordo com a matéria, postada na segunda-feira (28), "o UOL teve acesso a algumas observações feitas após as primeiras medições da GfK. A primeira leva de dados consolidados só deverá ser divulgada na próxima semana pela empresa às emissoras que assinaram seu serviço (Record, SBT e RedeTV!)... A metodologia alemã já teria observado que o SBT, por exemplo, tem mais audiência matinal e à tarde do que a medida atualmente pelo Instituto Ibope. Segundo os dados iniciais da GfK, a Record também tem mais público na faixa da tarde e à noite do que os números atuais medidos pelo Ibope".

          A suspeita de fraude na medição da audiência é antiga. Já foram feitas inúmeras denúncias de que o Ibope, até recentemente presidido pelo empresário-trambiqueiro Carlos Montenegro, inflava os dados para beneficiar o seu maior contratante. Diante das suspeitas, as outras emissoras decidiram enfrentar o monopólio do Ibope e contrataram a GfK no ano passado. A famiglia Marinho jogou pesado e sujo para sabotar a concorrência, mas foi derrotada pelo "pool" formado por Record, SBT e RedeTV!.

          Ainda segundo reportagem, "a empresa alemã também está encontrando diferenças (em relação ao Ibope) entre algumas faixas etárias e sociais. Segundo fontes ouvidas por esta coluna (que pedem anonimato), essa discrepância captada em medições iniciais pode indicar que a metodologia utilizada pela GfK seria mais completa e ampla que a usada atualmente. A empresa alemã teria contemplando 'significativas mudanças' nos estratos sociais ocorridos especialmente nos últimos dez anos".

          Ricardo Feltrin conclui: "Ainda é cedo para saber como emissoras, mundo publicitário e, em especial, os anunciantes irão reagir aos novos   dados de audiência medidos pela GfK, mas é óbvio que eles serão analisados detalhadamente e com atenção. Embora muita gente acredite que uma segunda empresa medindo audiência pode servir apenas para criar confusão no mercado, alguns especialistas acreditam que é justamente o oposto disso: que eventuais discrepâncias que a GfK identificar também podem servir para aprimorar ainda mais estratégias publicitárias e de anunciantes na TV".

          A própria entrada da GfK no mercado de pesquisas, rompendo o antigo monopólio, já parece ter seus efeitos no Ibope. A concorrência obriga o suspeito instituto a mudar de atitudes e a tentar ajustar seus índices para evitar a total desmoralização - e, inclusive, a rigorosa apuração sobre suas manipulações. Segundo informa a jornalista Keila Jimenez, do site R7, o Ibope finalmente decidiu quebrar o sigilo de suas pesquisas e liberar os dados da audiência - uma antiga reivindicação das rivais da Globo.

          "Em decisão inédita, o Ibope passará a divulgar a audiência da TV aberta e TV paga, semanalmente, em seu site. As análises da audiência estarão à disposição no www.ibopemedia.com... É a primeira vez em mais de 70 anos que o Ibope abre esses dados... A novidade embarca em uma prática comum em outros países, onde atuam na aferição de audiência o instituto Nielsen e instituto GfK. O segundo, por sinal, chegou ao Brasil para concorrer com o Ibope e promete divulgar seus primeiros índices de aferição de audiência no país no próximo mês... Por aqui, o Ibope sempre fez jogo duro com relação a liberação de números publicamente e chegava a questionar clientes quando esses divulgavam dados de pesquisas. Há até uma cláusula de confidencialidade na maioria dos contratos. A disponibilização desses dados mostra que a política do Ibope está mudando".

          Estes fatos confirmam que seria saudável para o país a convocação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as possíveis distorções no mercado publicitário. Afinal, bilhões de reais fluíram para a poderosa Rede Globo com base em pesquisas sob suspeita. Em certo sentido, os cofres públicos podem ter sido assaltados. Será que a mídia privada, que adora uma CPI, topa averiguar esta sujeira? Será que os parlamentares, muitos deles metidos a vestais da ética, aceitam enfrentar a Rede Globo? Será que a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República vai reavaliar os seus critérios "técnicos" de publicidade, que só ajudam a alimentar cobras? A conferir!

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Eduardo Cunha subiu no telhado !

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Artigo publicado no Blog do Miro

Por Altamiro Borges

O "imortal" Merval Pereira nem disfarçou a sua tristeza no 'Jornal das Dez', da GloboNews. na noite desta quinta-feira (1). Para ele, que apostou todas suas fichas em Eduardo Cunha como peça decisiva para o impeachment de Dilma, "a situação do presidente da Câmara Federal é insustentável". Após a confirmação de que o lobista possui cinco contas em bancos da Suíça, que não foram declaradas à Justiça Eleitoral, parece que finalmente o gatuno subiu no telhado. 

Até velhos compadres de Eduardo Cunha - há que o afirme que "achacador" ajudou, financeiramente, a eleger uma bancada de mais de 100 deputados - já dão sinais de que jogarão fora o bagaço. É forte a tendência da sua cassação. Quanto à sua prisão, a medida tão aguardada ainda dependerá da seletiva Justiça brasileira. O ministro Gilmar Mendes, o seu parceiro de tantas conspirações golpistas, fará de tudo para evitar este desfecho traumático - nem que seja preciso disparar mais alguns habeas corpus.


A notícia das cinco contas secretas caiu como uma bomba em Brasília. A suspeita já era antiga e até gerou bate-boca no Congresso Nacional. Questionado em março último, Eduardo Cunha jurou de pé junto que não possuía conta no exterior - o que complica ainda mais sua situação. Agora, é o próprio Ministério Público da Suíça que informou às autoridades brasileiras que encontrou cerca de US$ 5 milhões em contas de Eduardo Cunha, da mulher Cláudia Cruz e de uma de suas filhas. 

O órgão chegou a estudar o pedido de extradição do lobista, o que foi negado pela Procuradoria-Geral da República: "O instituto da transferência é um procedimento de cooperação internacional, em que se assegura a continuidade da investigação ou processo ao se verificar a jurisdição mais adequada para a persecução penal", afirma nota do PGR divulgada nesta sexta-feira. O medo de ser preso talvez explique porque Eduardo Cunha cancelou na última hora uma viagem já programada para a Europa.

A descoberta das contas secretas desmascara de uma vez o falso moralista, que posava de paladino da ética para desgastar o governo Dilma e fortalecer suas negociatas de bastidor. Antes da revelação do Ministério Público da Suíça, Eduardo Cunha já tinha sido citado em cinco "delações premiadas" na midiática Operação Lava-Jato. Apesar das denúncias, a mídia oposicionista, principalmente a Rede Globo, fez de tudo para abafar os escândalos. Agora, porém, não dá para mais esconder. O "imortal" Merval Pereira deve estar, realmente, muito triste e abatido. Perdeu o seu "trunfo" em Brasília!

Alguns fatos constrangedores

- Em 12 de março deste ano, em depoimento à CPI da Petrobras, Eduardo Cunha negou possuir conta na Suíça. Na ocasião, ele foi questionado pelo deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) sobre a grana em paraísos fiscais. Cunha negou categoricamente: "Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu imposto de renda". E agora?

- Em sua declaração de renda entregue à Justiça Eleitoral em 2014, Eduardo Cunha informou ter um patrimônio de R$ 1,65 milhão, incluindo apenas uma conta no Itaú, com saldo de R$ 21.652,39. Por que o lobista não faz como o jogador Romário, acusado pela Veja, e vai à Suíça para desmentir a existência das contas secretas. Tem medo de ser preso?

- Em recente "delação premiada", João Augusto Rezende Henriques, preso na semana passada pela Polícia Federal sob a acusação de ser operador do PMDB, "confirmou ter feito depósito em conta na Suíça que seria repassado ao atual presidente da Câmara. O destinatário era o lobista Felipe Diniz, filho do falecido ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), ex-aliado do peemedebista", revelou a insuspeita revista "Época", da famiglia Marinho. 

- Junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusou o peemedebista de ter recebido ao menos US$ 5 milhões em propina por um contrato entre Petrobras e Samsung. Em documento de 85 páginas, ele denunciou Eduardo Cunha pelos crimes de "corrupção passiva e lavagem de dinheiro", com base na delação premiada do ex-consultor Júlio Camargo.

- Temendo ser cassado e preso, nos últimos dias Eduardo Cunha radicalizou ainda mais sua postura e entrou em choque frontal com o Senado. Ele boicotou importantes votações e afirmou que agilizaria a análise dos pedidos de impeachment da presidenta Dilma. Sua valentia, porém, acabou gerando maior desgaste. Segundo a coluna Painel da Folha, "na reunião de líderes do Senado com Renan Calheiros, o presidente da Câmara foi chamado de 'sequestrador' e 'chantagista'". 

- Parlamentares do PSDB e do DEM, que garantiram a blindagem de Eduardo Cunha com o objetivo de desgastar o governo Dilma, agora já ensaiam jogá-lo ao mar. "Se aparecer um extrato bancário, aí não tem o que fazer", afirma um grão-tucano. O cambaleante Aécio Neves, tão próximo do lobista, agora foge dos holofotes e curte sua ressaca. Paulinho da Força, que promoveu um ato de apoio ao presidente da Câmara, também sumiu. E Marta Suplicy, que pediu a benção de Eduardo Cunha para a sua filiação ao PMDB, já estuda um novo discurso sobre ética na política para enganar os incautos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Jogo 10 da noite, NÃO !!!





Por Lais Amaral

O Coletivo "Futebol, Mídia e Democracia", do Centro de Estudos da Mídia  Barão de Itararé está lançando a campanha 'Jogo10danoite.Não!'. 

O objetivo é a redução do horário de exibição das partidas de futebol pela TV, (Globo à frente, claro). Aquele horário ridículo de depois da novela. É como diz o craque Alex, "Quem manda no futebol brasileiro é a Globo. A CBF é apenas o escritório". 

A campanha começa a pegar. No vídeo abaixo um exemplo de manifestação espontânea feita por parte de torcedores do Cruzeiro em jogo recente contra o Vasco. 

Um exemplo a ser seguido pelas demais torcidas e por quem gosta de futebol e respeita o povo trabalhador.

Acompanhe o crescimento da campanha pelo Face do Coletivo (Jogo 10 da noite, NÃO)


Vídeo de torcedores do Cruzeiro:

https://www.facebook.com/1920840968140548/videos/1926420174249294/




segunda-feira, 29 de junho de 2015

18 razões para ser contra a Redução da Maioridade

As 18 Razões CONTRA a Redução da Maioridade Penal

1°. Porque já responsabilizamos adolescentes em ato infracional
A partir dos 12 anos, qualquer adolescente é responsabilizado pelo ato cometido contra a lei. Essa responsabilização, executada por meio de medidas socioeducativas previstas no ECA, têm o objetivo de ajudá-lo a  recomeçar e a prepará-lo para uma vida adulta de acordo com o socialmente estabelecido. É parte do seu processo de aprendizagem que ele não volte a repetir o ato infracional.
Por isso, não devemos confundir impunidade com imputabilidade. A imputabilidade, segundo o Código Penal, é a capacidade da pessoa entender que o fato é ilícito e agir de acordo com esse entendimento, fundamentando em sua maturidade psíquica.

2°. Porque a lei já existe. Resta ser cumprida!
O ECA prevê seis medidas educativas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. Recomenda que a medida seja aplicada de acordo com a capacidade de cumpri-la, as circunstâncias do fato e a gravidade da infração.
Muitos adolescentes, que são privados de sua liberdade, não ficam em instituições preparadas para sua reeducação, reproduzindo o ambiente de uma prisão comum. E mais: o adolescente pode ficar até 9 anos em medidas socioeducativas, sendo três anos interno, três em semiliberdade e três em liberdade assistida, com o Estado acompanhando e ajudando a se reinserir na sociedade.
Não adianta só endurecer as leis se o próprio Estado não as cumpre!

3°. Porque o índice de reincidência nas prisões é de 70%
Não há dados que comprovem que o rebaixamento da idade penal reduz os índices de criminalidade juvenil. Ao contrário, o ingresso antecipado no falido sistema penal brasileiro expõe as(os) adolescentes a mecanismos/comportamentos reprodutores da violência, como o aumento das chances de reincidência, uma vez que as taxas nas penitenciárias são de 70% enquanto no sistema socioeducativo estão abaixo de 20%.
A violência não será solucionada com a culpabilização e punição, mas pela ação da sociedade e governos nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que as reproduzem. Agir punindo e sem se preocupar em discutir quais os reais motivos que reproduzem e mantém a violência, só gera mais violência.

4°. Porque o sistema prisional brasileiro não suporta mais pessoas.
O Brasil tem a 4° maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado com 500 mil presos. Só fica atrás em número de presos para os Estados Unidos (2,2 milhões), China (1,6 milhões) e Rússia (740 mil).
O sistema penitenciário brasileiro NÃO tem cumprido sua função social de controle, reinserção e reeducação dos agentes da violência. Ao contrário, tem demonstrado ser uma “escola do crime”.
Portanto, nenhum tipo de experiência na cadeia pode contribuir com o processo de reeducação e reintegração dos jovens na sociedade.

5°. Porque reduzir a maioridade penal não reduz a violência.
Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais têm demonstrado que NÃO HÁ RELAÇÃO direta de causalidade entre a adoção de soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência.
No sentido contrário, no entanto, se observa que são as políticas e ações de natureza social que desempenham um papel importante na redução das taxas de criminalidade.
Dados do Unicef revelam a experiência mal sucedida dos EUA. O país, que assinou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aplicou em seus adolescentes, penas previstas para os adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.

6°. Porque fixar a maioridade penal em 18 anos é tendência mundial
Diferentemente do que alguns jornais, revistas ou veículos de comunicação em geral têm divulgado, a idade de responsabilidade penal no Brasil não se encontra em desequilíbrio se comparada à maioria dos países do mundo.
De uma lista de 54 países analisados, a maioria deles adota a idade de responsabilidade penal absoluta aos 18 anos de idade, como é o caso brasileiro.
Essa fixação majoritária decorre das recomendações internacionais que sugerem a existência de um sistema de justiça especializado para julgar, processar e responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos.

7°. Porque a fase de transição justifica o tratamento diferenciado.
A Doutrina da Proteção Integral é o que caracteriza o tratamento jurídico dispensado pelo Direito Brasileiro às crianças e adolescentes, cujos fundamentos encontram-se no próprio texto constitucional, em documentos e tratados internacionais e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Tal doutrina exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma integral e integrada, mediando e operacionalização de políticas de natureza universal, protetiva e socioeducativa.
A definição do adolescente como a pessoa entre 12 e 18 anos incompletos implica a incidência de um sistema de justiça especializado para responder a infrações penais quando o autor trata-se de um adolescente.
A imposição de medidas socioeducativas e não das penas criminais relaciona-se justamente com a finalidade pedagógica que o sistema deve alcançar, e decorre do reconhecimento da condição peculiar de desenvolvimento na qual se encontra o adolescente.

8°. Porque as leis não podem se pautar na exceção.
Até junho de 2011, o Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL), do Conselho Nacional de Justiça, registrou ocorrências de mais de 90 mil adolescentes. Desses, cerca de 30 mil cumprem medidas socioeducativas. O número, embora seja considerável, corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil, que conta com 21 milhões de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.
Sabemos que os jovens infratores são a minoria, no entanto, é pensando neles que surgem as propostas de redução da idade penal. Cabe lembrar que a exceção nunca pode pautar a definição da política criminal e muito menos a adoção de leis, que devem ser universais e valer para todos.
As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com a adoção de leis penais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência.

9°. Porque reduzir a maioridade penal é tratar o efeito,  não a causa!
A constituição brasileira assegura nos artigos 5º e 6º direitos fundamentais como educação, saúde, moradia, etc. Com muitos desses direitos negados, a probabilidade  do envolvimento com o crime aumenta, sobretudo entre os jovens.
O adolescente marginalizado não surge ao acaso. Ele é fruto de um estado de injustiça social que gera e agrava a pobreza em que sobrevive grande parte da população.
A marginalidade torna-se uma prática moldada pelas condições sociais e históricas em que os homens vivem. O adolescente em conflito com a lei é considerado um ‘sintoma’ social, utilizado como uma forma de eximir a responsabilidade que a sociedade tem nessa construção.
Reduzir a maioridade é transferir o problema. Para o Estado é mais fácil prender do que educar.

10°. Porque educar é melhor e mais eficiente do que punir.
A educação é fundamental para qualquer indivíduo se tornar um cidadão, mas é realidade que no Brasil muitos jovens pobres são excluídos deste processo. Puni-los com o encarceramento é tirar a chance de se tornarem cidadãos conscientes de direitos e deveres, é assumir a própria incompetência do Estado em lhes assegurar esse direito básico que é a educação.
As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com adoção de leis penais mais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência.
Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para a construção de uma sociedade melhor. E não como os vilões que estão colocando toda uma nação em risco.

11°. Porque reduzir a maioridade penal isenta o estado do compromisso com a juventude
O Brasil não aplicou as políticas necessárias para garantir às crianças, aos adolescentes e jovens o pleno exercício de seus direitos e isso ajudou em muito a aumentar os índices de criminalidade da juventude.
O que estamos vendo é uma mudança de um tipo de Estado que deveria garantir direitos para um tipo de Estado Penal que administra a panela de pressão de uma sociedade tão desigual. Deve-se mencionar ainda a ineficiência do Estado para emplacar programas de prevenção da criminalidade e de assistência social eficazes, junto às comunidades mais pobres, além da deficiência generalizada em nosso sistema educacional.

12°. Porque os adolescentes são as maiores vitimas, e não os principais autores da violência
Até junho de 2011, cerca de 90 mil adolescentes cometeram atos infracionais. Destes, cerca de 30 mil cumprem medidas socioeducativas. O número, embora considerável, corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil que conta com 21 milhões de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.
Os homicídios de crianças e adolescentes brasileiros cresceram vertiginosamente nas últimas décadas: 346% entre 1980 e 2010. De 1981 a 2010, mais de 176 mil foram mortos e só em 2010, o número foi de 8.686 crianças e adolescentes assassinadas, ou seja, 24 POR DIA!
A Organização Mundial de Saúde diz que o Brasil ocupa a 4° posição entre 92 países do mundo analisados em pesquisa. Aqui são 13 homicídios para cada 100 mil crianças e adolescentes; de 50 a 150 vezes maior que países como Inglaterra, Portugal, Espanha, Irlanda, Itália, Egito cujas taxas mal chegam a 0,2 homicídios para a mesma quantidade de crianças e adolescentes.

13°. Porque, na prática, a pec 33/2012 é inviável!!
A Proposta de Emenda Constitucional quer alterar os artigos 129 e 228 da Constituição Federal, acrescentando um paragrafo que prevê a possibilidade de desconsiderar da inimputabilidade penal de maiores de 16 anos e menores de 18 anos.
E o que isso quer dizer? Que continuarão sendo julgados nas varas Especializadas Criminais da Infância e Juventude, mas se o Ministério Publico quiser poderá pedir para ‘desconsiderar inimputabilidade’, o juiz decidirá se o adolescente tem capacidade para responder por seus delitos. Seriam necessários laudos psicológicos e perícia psiquiátrica diante das infrações: crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo ou reincidência na pratica de lesão corporal grave e roubo qualificado. Os laudos atrasariam os processos e congestionariam a rede pública de saúde.
A PEC apenas delega ao juiz a responsabilidade de dizer se o adolescente deve ou não ser punido como um adulto.
No Brasil, o gargalo da impunidade está na ineficiência da polícia investigativa e na lentidão dos julgamentos. Ao contrário do senso comum, muito divulgado pela mídia, aumentar as penas e para um número cada vez mais abrangente de pessoas não ajuda em nada a diminuir a criminalidade, pois, muitas vezes, elas não chegam a ser aplicadas.

14°. Porque reduzir a maioridade penal não afasta crianças e adolescentes do crime
Se reduzida a idade penal, estes serão recrutados cada vez mais cedo.
O problema da marginalidade é causado por uma série de fatores. Vivemos em um país onde há má gestão de programas sociais/educacionais, escassez das ações de planejamento familiar, pouca oferta de lazer nas periferias, lentidão de urbanização de favelas, pouco policiamento comunitário, e assim por diante.
A redução da maioridade penal não visa a resolver o problema da violência. Apenas fingir que há “justiça”. Um autoengano coletivo quando, na verdade, é apenas uma forma de massacrar quem já é massacrado.
Medidas como essa têm caráter de vingança, não de solução dos graves problemas do Brasil que são de fundo econômico, social, político. O debate sobre o aumento das punições a criminosos juvenis envolve um grave problema: a lei do menor esforço. Esta seduz políticos prontos para oferecer soluções fáceis e rápidas diante do clamor popular.
Nesse momento, diante de um crime odioso, é mais fácil mandar quebrar o termômetro do que falar em enfrentar com seriedade a infecção que gera a febre.

15°. Porque afronta leis brasileiras e acordos internacionais
Vai contra a Constituição Federal Brasileira que reconhece prioridade e proteção especial a crianças e adolescentes. A redução é inconstitucional.
Vai contra o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) de princípios administrativos, políticos e pedagógicos que orientam os programas de medidas socioeducativas.
Vai contra a Doutrina da Proteção Integral do Direito Brasileiro que exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma integral e integrada às políticas de natureza universal, protetiva e socioeducativa.
Vai contra parâmetros internacionais de leis especiais para os casos que envolvem pessoas abaixo dos dezoito anos autoras de infrações penais.
Vai contra a Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Declaração Internacional dos Direitos da Criança compromissos assinados pelo Brasil.

16°. Porque poder votar não tem a ver com ser preso com adultos
O voto aos 16 anos é opcional e não obrigatório, direito adquirido pela juventude. O voto não é para a vida toda, e caso o adolescente se arrependa ou se decepcione com sua escolha, ele pode corrigir seu voto nas eleições seguintes. Ele pode votar aos 16, mas não pode ser votado.
Nesta idade ele tem maturidade sim para votar, compreender e responsabilizar-se por um ato infracional.
Em nosso país qualquer adolescente, a partir dos 12 anos, pode ser responsabilizado pelo cometimento de um ato contra a lei.
O tratamento é diferenciado não porque o adolescente não sabe o que está fazendo. Mas pela sua condição especial de pessoa em desenvolvimento e, neste sentido, o objetivo da medida socioeducativa não é fazê-lo sofrer pelos erros que cometeu, e sim prepará-lo para uma vida adulta e ajuda-lo a recomeçar.

17°. Porque o brasil está dentro dos padrões internacionais.
São minoria os países que definem o adulto como pessoa menor de 18 anos. Das 57 legislações analisadas pela ONU, 17% adotam idade menor do que 18 anos como critério para a definição legal de adulto.
Alemanha e Espanha elevaram recentemente para 18 a idade penal e a primeira criou ainda um sistema especial para julgar os jovens na faixa de 18 a 21 anos.
Tomando 55 países de pesquisa da ONU, na média os jovens representam 11,6% do total de infratores, enquanto no Brasil está em torno de 10%. Portanto, o país está dentro dos padrões internacionais e abaixo mesmo do que se deveria esperar. No Japão, eles representam 42,6% e ainda assim a idade penal no país é de 20 anos.
Se o Brasil chama a atenção por algum motivo é pela enorme proporção de jovens vítimas de crimes e não pela de infratores.

18°. Porque importantes órgãos têm apontado que não é uma boa solução.
O UNICEF expressa sua posição contrária à redução da idade penal, assim como à qualquer alteração desta natureza. Acredita que ela representa um enorme retrocesso no atual estágio de defesa, promoção e garantia dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. A Organização dos Estados Americanos (OEA) comprovou que há mais jovens vítimas da criminalidade do que agentes dela.
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) defende o debate ampliado para que o Brasil não conduza mudanças em sua legislação sob o impacto dos acontecimentos e das emoções. O CRP (Conselho Regional de Psicologia) lança a campanha Dez Razões da Psicologia contra a Redução da idade penal CNBB, OAB, Fundação Abrinq lamentam publicamente a redução da maioridade penal no país.
Mais de 50 entidades brasileiras aderem ao Movimento 18 Razões para a Não redução da maioridade penal

terça-feira, 3 de março de 2015

Ordinariamente Humano



          Por Laís Amaral

          Dia desses escrevi na minha coluna no jornal Beira-Rio sobre minha impaciência com a selfiemania que anda por aí. A motivação foi compartilhar o pensamento de que esse exacerbado narcisismo foi posto à tona pelas facilidades oferecidas pela tecnologia. 

             O que antes era privilégio do espelho, revelar a face oculta, o excesso de vaidade (um pecado ?), e que se limitava aos poucos locais onde o reflexo era possível, com a facilidade de fotografar e, principalmente, se fotografar (como a olhar-se no espelho) não há fronteiras, nem limites.  

       Fotografa-se e se autofotografa em todos os lugares e sob qualquer circunstância, sem um resquício sequer de pudor, se podemos dizer assim. 

         No brilhante texto que me foi enviado pelo amigo Zé Marcos Vieira, a jornalista Eliane Brum, do El País, destrincha toda essa parada só que indo muito mais fundo.

         Ela fala como as redes sociais - e aí muito mais que as inofensivas selfies – abriram as comportas para que velhos monstros que viviam enclausurados nos calabouços conceituais da civilização se dessem à luz mostrando o quanto de barbárie é composto suas células. Preconceito, ódio, e uma intolerância que chega às raias da não aceitação do outro,  propugnando quase sempre, sua eliminação.  

          O texto é longo mas fundamental. Acende um holofote sobre a tumultuada e obscura realidade dos dias atuais. Vale muito a pena ler.    

A Boçalidade do Mal
Eliane Brum
Em 19 de fevereiro, Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda dos governos de Lula e de Dilma Rousseff, estava na lanchonete do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, quando foi hostilizado por uma mulher, com o apoio de outras pessoas ao redor.
Os gritos: “Vá pro SUS!”. Entre eles, “safado” e “fdp”. Mantega era acompanhado por sua esposa, Eliane Berger, psicanalista. Ela faz um longo tratamento contra o câncer no hospital, mas o casal estava ali para visitar um amigo. O episódio se tornou público na semana passada, quando um vídeo mostrando a cena foi divulgado no YouTube.
Entre as várias questões importantes sobre o momento atual do Brasil – mas não só do Brasil – que o episódio suscita, esta me parece particularmente interessante:
“Que passo é esse que se dá entre a discordância com relação à política econômica e a impossibilidade de sustentar o lugar do outro no espaço público?”.
A pergunta consta de uma carta escrita pelo Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública (MPASP), que encontrou na cena vivida por Guido e Eliane ecos do período que antecedeu a Segunda Guerra, na Alemanha nazista, quando se iniciou a construção de um clima de intolerância contra judeus, assim como contra ciganos, homossexuais e pessoas com deficiências mentais e/ou físicas.
O desfecho todos conhecem. Em apoio a Guido e Eliane, mas também pela valorização do Sistema Único de Saúde (SUS), que atende milhões de brasileiros, o MPASP lançou a hashtag#VamosTodosProSUS.
Pode-se aqui fazer a ressalva de que a discordância vai muito além da política econômica e que o ex-ministro petista encarnaria na lanchonete de um dos hospitais privados mais caros do país algo bem mais complexo.
Mas a pergunta olha para um ponto preciso do cotidiano atual do Brasil: em que momento a opinião ou a ação ou as escolhas do outro, da qual divergimos, se transforma numa impossibilidade de suportar que o outro exista? E, assim, é preciso eliminá-lo, seja expulsando-o do lugar, como no caso de Guido e Eliane, seja eliminando sua própria existência – simbólica, como em alguns projetos de lei que tramitam no Congresso, visando suprimir direitos fundamentais dos povos indígenas ou de outras minorias; física, como nos crimes de assassinato por homofobia ou preconceito racial.
O que significa, afinal, esse passo a mais, o limite ultrapassado, que tem sido chamado de “espiral de ódio” ou “espiral de intolerância”, num país supostamente dividido (e o supostamente aqui não é um penduricalho)? De que matéria é feita essa fronteira rompida?
A descoberta de que aquele vizinho simpático com quem trocávamos amenidades no elevador defende o linchamento de homossexuais tem um impacto profundo
A resposta admite muitos ângulos. Na minha hipótese, entre tantas possíveis, peço uma espécie de licença poética à filósofa Hannah Arendt, para brincar com o conceito complexo que ela tão brilhantemente criou e chamar esse passo a mais de “a boçalidade do mal”. Não banalidade, mas boçalidade mesmo.
Arendt, para quem não lembra, alcançou “a banalidade do mal” ao testemunhar o julgamento do nazista Adolf Eichmann, em Jerusalém, e perceber que ele não era um monstro com um cérebro deformado, nem demonstrava um ódio pessoal e profundo pelos judeus, nem tampouco se dilacerava em questões de bem e de mal.
Eichmann era um homem decepcionantemente comezinho que acreditava apenas ter seguido as regras do Estado e obedecido à lei vigente ao desempenhar seu papel no assassinato de milhões de seres humanos. Eichmann seria só mais um burocrata cumprindo ordens que não lhe ocorreu questionar. A banalidade do mal se instala na ausência do pensamento.
A boçalidade do mal, uma das explicações possíveis para o atual momento, é um fenômeno gerado pela experiência da internet. Ou pelo menos ligado a ela. Desde que as redes sociais abriram a possibilidade de que cada um expressasse livremente, digamos, o seu “eu mais profundo”, a sua “verdade mais intrínseca”, descobrimos a extensão da cloaca humana.
Quebrou-se ali um pilar fundamental da convivência, um que Nelson Rodrigues alertava em uma de suas frases mais agudas: “Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”.
O que se passou foi que descobrimos não apenas o que cada um faz entre quatro paredes, mas também o que acontece entre as duas orelhas de cada um. Descobrimos o que cada um de fato pensa sem nenhuma mediação ou freio.
E descobrimos que a barbárie íntima e cotidiana sempre esteve lá, aqui, para além do que poderíamos supor, em dimensões da realidade que só a ficção tinha dado conta até então.
Descobrimos, por exemplo, que aquele vizinho simpático com quem trocávamos amenidades bem educadas no elevador defende o linchamento de homossexuais. E que mesmo os mais comedidos são capazes de exercer sua crueldade e travesti-la de liberdade de expressão.
Nas postagens e comentários das redes sociais, seus autores deixam claro o orgulho do seu ódio e muitas vezes também da sua ignorância. Com frequência reivindicam uma condição de “cidadãos de bem” como justificativa para cometer todo o tipo de maldade, assim como para exercer com desenvoltura seu racismo, sua coleção de preconceitos e sua abissal intolerância com qualquer diferença.
Foi como um encanto às avessas – ou um desencanto. A imagem devolvida por esse espelho é obscena para além da imaginação.
Ao libertar o indivíduo de suas amarras sociais, o que apareceu era muito pior do que a mais pessimista investigação da alma humana. Como qualquer um que acompanha comentários em sites e postagens nas redes sociais sabe bem, é aterrador o que as pessoas são capazes de dizer para um outro, e, ao fazê-lo, é ainda mais aterrador o que dizem de si.
Como o Eichmann de Hannah Arendt, nenhum desses tantos é um tipo de monstro, o que facilitaria tudo, mas apenas ordinariamente humano.
Ao permitir que cada indivíduo se mostrasse sem máscaras, a internet arrancou da humanidade a ilusão sobre si mesma.

Ainda temos muito a investigar sobre como a internet, uma das poucas coisas que de fato merecem ser chamadas de revolucionárias, transformaram a nossa vida e o nosso modo de pensar e a forma como nos enxergamos. Mas acho que é subestimado o efeito daquilo que a internet arrancou da humanidade ao permitir que cada indivíduo se mostrasse sem máscaras: a ilusão sobre si mesma.
Essa ilusão era cara, e cumpria uma função – ou muitas – tanto na expressão individual quanto na coletiva. Acho que aí se escavou um buraco bem fundo, ainda por ser melhor desvendado.
Como aprendi na experiência de escrever na internet que não custa repetir o óbvio, de forma nenhuma estou dizendo que a internet, um sonho tão estupendo que jamais fomos capazes de sonhá-lo, é algo nocivo em si. A mesma possibilidade de se mostrar, que nos revelou o ódio, gerou também experiências maravilhosas, inclusive de negação do ódio.
Assim como permitiu que pessoas pudessem descobrir na rede que suas fantasias sexuais não eram perversas nem condenadas ao exílio, mas passíveis de serem compartilhadas com outros adultos que também as têm.
Do mesmo modo, a internet ampliou a denúncia de atrocidades e a transformação de realidades injustas, tanto quanto tornou o embate no campo da política muito mais democrático.
Meu objetivo aqui é chamar a atenção para um aspecto que me parece muito profundo, e, definidor de nossas relações atuais. A sociedade brasileira, assim como outras, mas da sua forma particular, sempre foi atravessada pela violência.
Fundada na eliminação do outro, primeiro dos povos indígenas, depois dos negros escravizados, sua base foi o esvaziamento do diferente como pessoa, e seus ecos continuam fortes. A internet trouxe um novo elemento a esse contexto. Quero entender como indivíduos se apropriaram de suas possibilidades para exercer seu ódio – e como essa experiência alterou nosso cotidiano para muito além da rede.
Finalmente era possível “dizer tudo”, e isso passou a ser confundido com autenticidade e liberdade.

É difícil saber qual foi a primeira baixa. Mas talvez tenha sido a do pudor. Primeiro, porque cada um que passou a expressar em público ideias que até então eram confinadas dentro de casa ou mesmo dentro de si, descobriu, para seu júbilo, que havia vários outros que pensavam do mesmo jeito.
Mesmo que esse pensamento fosse incitação ao crime, discriminação racial, homofobia, defesa do linchamento. Que chamar uma mulher de “vagabunda” ou um negro de “macaco”, defender o “assassinato em massa de gays”, “exterminar esse bando de índios que só atrapalham” ou “acabar com a raça desses nordestinos safados” não só era possível, como rendia público e aplausos.
Pensamentos que antes rastejavam pelas sombras passaram a ganhar o palco e a amealhar seguidores. E aqueles que antes não ousavam proclamar seu ódio cara a cara, sentiram-se fortalecidos ao descobrirem-se legião. Finalmente era possível “dizer tudo”. E dizer tudo passou a ser confundido com autenticidade e com liberdade.
Para muitos, havia e há a expectativa de que o conhecimento transmitido pela oralidade, caso de vários povos tradicionais e de várias camadas da população brasileira com riquíssima produção oral, tenha o mesmo reconhecimento na construção da memória que os documentos escritos.
Na experiência da internet, aconteceu um fenômeno inverso: a escrita, que até então era uma expressão na qual se pesava mais cada palavra, por acreditar-se mais permanente, ganhou uma ligeireza que historicamente esteve ligada à palavra falada nas camadas letradas da população.
As implicações são muitas, algumas bem interessantes, como a apropriação da escrita por segmentos que antes não se sentiam à vontade com ela. Outras mostram as distorções apontadas aqui, assim como a inconsciência de que cada um está construindo a sua memória: na internet, a possibilidade de apagar os posts é uma ilusão, já que quase sempre eles já foram copiados e replicados por outros, levando àimpossibilidade do esquecimento
O fenômeno ajuda a explicar, entre tantos episódios, a resposta de Washington Quaquá, prefeito de Maricá e presidente do PT fluminense, uma figura com responsabilidade pública, além de pessoal, às agressões contra Guido Mantega.
Em seu perfil no Facebook, ele sentiu-se livre para expressar sua indignação contra o que aconteceu na lanchonete do Einstein nos seguintes termos: “Contra o fascismo a porrada. Não podemos engolir esses fascistas burguesinhos de merda! (...) Vamos pagar com a mesma moeda: agrediu, devolvemos dando porrada!”.
O outro, se não for um clone, só existe como inimigo
O ódio, e também a ignorância, ao serem compartilhados no espaço público das redes, deixaram de ser algo a ser reprimido e trabalhado, no primeiro caso, e ocultado e superado, no segundo, para ser ostentado. E quando me refiro à ignorância, me refiro também a declarações de não saber e de não querer saber e de achar que não precisa saber.
Me arrisco a dizer que havia mais chances quando as pessoas tinham pudor, em vez de orgulho, de declarar que acham museus uma chatice ou que não leram o texto que acabaram de desancar, porque pelo menos poderia haver uma possibilidade de se arriscar a uma obra de arte que as tocasse ou a descobrir num texto algo que provocasse nelas um pensamento novo.
Sempre se culpa o anonimato permitido pela rede pelas brutalidades ali cometidas. É verdade que o anonimato é uma realidade, que há os “fakes” (perfis falsos) e há toda uma manipulação para falsificar reações negativas a determinados textos e opiniões, seja por grupos organizados, seja como tarefa de equipes de gerenciamento de crise de clientes públicos e privados.
Tanto quanto há campanhas de desqualificação fabricadas como “espontâneas”, nas quais mentiras ou boatos são disseminados como verdades comprovadas, causando enormes estragos em vidas e causas.
Mas suspeito que, no que se refere ao indivíduo, a notícia – boa ou má – é que o anonimato foi em grande medida um primeiro estágio superado. Uma espécie de ensaio para ver o que acontece, antes de se arriscar com o próprio RG. Não tenho pesquisa, só observação cotidiana.
Testemunho dia a dia o quanto gente com nome e sobrenome reais é capaz de difundir ódio, ofensas, boatos, preconceitos, discriminação e incitação ao crime sem nenhum pudor ou cuidado com o efeito de suas palavras na destruição da reputação e da vida de pessoas também reais.
A preocupação de magoar ou entristecer alguém, então, essa nem é levada em conta. Ao contrário, o cuidado que aparece é o de garantir que a pessoa atacada leia o que se escreveu sobre ela, o cuidado que se toma é o da certeza de ferir o outro. O outro, se não for um clone, só existe como inimigo.
Na eleição de 2014, descobriu-se que os bárbaros eram até ontem os aliados na empreitada da civilização.

O problema, quando se aponta os “bárbaros”, e aqui me incluo, é justamente que os bárbaros são sempre os outros. Neste sentido, a eleição de 2014, da qual derivou a tese, para mim bastante questionável, do “Brasil partido”, bagunçou um bocado essa crença.
Não foi à toa que amizades antigas se desfizeram, parentes brigaram e até amores foram abalados, que até hoje há gente que se gostava que não voltou a se falar. As redes sociais, a internet, viraram um campo de guerra, num nível maior do que em qualquer outra eleição ou momento histórico. Só que, desta vez, os bárbaros eram até ontem os aliados na empreitada da civilização.
Descobriu-se então que pessoas com quem se compartilhou sonhos ou pessoas que se considerava éticas – pessoas do “lado certo” – eram capazes de lançar argumentos desonestos – e que sabiam ser desonestos – e até mentiras descaradas, assim como de torturar números e manipular conceitos.
Eram capazes de fazer tudo o que sempre condenaram, em nome do objetivo supostamente maior de ganhar a eleição. Os bárbaros não eram mais os outros, os de longe.
Desta vez, eram os de perto, bem de perto, que queriam não apenas vencer, mas destruir o diferente ou o divergente, eu ou você. O bárbaro era um igual, o que torna tudo mais complicado.
Não se sai imune desse confronto com a realidade do outro, a parte mais fácil. Não se sai impune desse confronto com a realidade de si, este um enfrentamento só levado adiante pelos que têm coragem.
Como sabemos, enquanto for possível e talvez mesmo quando não seja mais, cada um fará de tudo para não se enxergar como bárbaro, mesmo que para isso precise mentir para si mesmo. É duro reconhecer os próprios crimes, assim como as traições, mesmo as bem pequenas, e as vilanias. Mas, no fundo, cada um sabe o que fez e os limites que ultrapassou.
O que aconteceu na eleição de 2014 é que os bons e os limpinhos descobriram algumas nuances a mais de sua condição humana, e descobriram o pior: também eles (nós?) não são capazes de respeitar a opinião e a escolha diferente da sua. Também eles (nós?) não quiseram debater, mas destruir.
De repente, só havia “haters” (odiadores). De novo: desse confronto não se sai impune. A boçalidade do mal ganhou dimensões imprevistas.
A experiência poderosa de se mostrar sem recalques transcendeu e influenciou a vida para além das redes.

Seria improvável que a experiência vivida na internet, na qual o que aconteceu nas eleições foi apenas o momento de maior desvendamento, não mudasse o comportamento quando se está cara a cara com o outro, quando se está em carne e osso e ódio diante do outro, nos espaços concretos do cotidiano.
Seria no mínimo estranho que a experiência poderosa de se manifestar sem freios, de se mostrar “por inteiro”, de eliminar qualquer recalque individual ou trava social e de “dizer tudo” – e assim ser “autêntico”, “livre” e “verdadeiro” – não influenciasse a vida para além da rede.
Seria impossível que, sob determinadas condições e circunstâncias, os comportamentos não se misturassem. Seria inevitável que essa “autorização” para “dizer tudo” não alterasse os que dela se apropriaram e se expandisse para outras realidades da vida. E a legitimidade ganhada lá não se transferisse para outros campos.
Seria pouco lógico acreditar que a facilidade do “deletar” e do “bloquear” da internet, um dedo leve e só aparentemente indolor sobre uma tecla, não transcendesse de alguma forma. Não se trata, afinal, de dois mundos, mas do mesmo mundo – e do mesmo indivíduo.
A mulher que se sentiu “no direito” de xingar Guido Mantega e por extensão Eliane Berger, e tornar sua presença na lanchonete do hospital insuportável, assim como as pessoas que se sentiram “no direito” de aumentar o coro de xingamentos, possivelmente acreditem que estavam apenas exercendo a liberdade de expressão como “cidadãos de bem indignados com o PT”, uma frase corriqueira nos dias de hoje, quase uma bandeira.
Ao mandar Guido e Eliane para outro lugar – e não para qualquer lugar, mas “pro SUS” – devem acreditar que o Sistema Único de Saúde é a versão contemporânea do inferno, para a qual só devem ir os proscritos do mundo. Possivelmente acreditem também que o espaço do Hospital Israelita Albert Einstein deve continuar reservado para uma gente “diferenciada”.
Em nenhum momento parecem ter enxergado Guido e Eliane como pessoas, nem se lembrado de que quem está num hospital, seja por si mesmo, seja por alguém que ama, está numa situação de fragilidade semelhante a deles. O direito ao ódio e à eliminação do outro mostrou-se soberano: aquele que é diferente de mim, eu mato. Ou deleto. Simbolicamente, no geral; fisicamente, com frequência assustadora.
Mas, claro, nada disso é importante. Nem é importante a greve dos caminhoneiros ou a falta de água na casa dos mais pobres. Tampouco a destruição de estátuas milenares pelo Estado Islâmico.
Essencial mesmo é o grande debate da semana que passou: descobrir se o vestido era branco e dourado – ou preto e azul. Até mesmo sobre tal irrelevância, a selvageria do bate-boca nas redes mostrou que não é possível ter opinião diferente.
Já demos um passo além da banalidade. Nosso tempo é o da boçalidade.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua,A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site:desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: