Por Lais Amaral
Para não dizer que estou republicando articulistas
de esquerda ou coisa parecida, leiam o interessante artigo
de Paulo Moreira Leite, que é jornalista da Revista Época,
das Organizações Globo, e que destoa amplamente das
matérias veiculadas e repetidas ad nausean nos telejornais globais.
“Faltou muita coisa” no mensalão
Debora Bergamasco publica uma entrevista muito instrutiva
com Osmar Serraglio, o deputado que foi relator da CPI
dos Correios, a primeira em três que investigaram o mensalão.
com Osmar Serraglio, o deputado que foi relator da CPI
dos Correios, a primeira em três que investigaram o mensalão.
Serraglio afirma:
“Faltou muita coisa, muito do que eles ficam batendo
agora que ‘não tá provado isso, não tá provado aquilo’
é porque a gente estava amarrado, não tínhamos
liberdade. Hoje, por exemplo, o José Dirceu fala que
ele não tem nada a ver com isso.
Nós poderíamos ter feito provas muito mais contundentes
em relação à evidente ascendência que ele tinha”, diz Serraglio.
agora que ‘não tá provado isso, não tá provado aquilo’
é porque a gente estava amarrado, não tínhamos
liberdade. Hoje, por exemplo, o José Dirceu fala que
ele não tem nada a ver com isso.
Nós poderíamos ter feito provas muito mais contundentes
em relação à evidente ascendência que ele tinha”, diz Serraglio.
Ele também diz que na CPI os petistas agiam para
dirigir as investigações para o terreno em que lhes
interessava. Por exemplo: pressionavam para que se
procurasse pela origem do dinheiro que Delúbio Soares
e Marcos Valério distribuíam e não pelo seu destino.
dirigir as investigações para o terreno em que lhes
interessava. Por exemplo: pressionavam para que se
procurasse pela origem do dinheiro que Delúbio Soares
e Marcos Valério distribuíam e não pelo seu destino.
O depoimento é instrutivo pelo que diz e também pelo
que dá a entender. Ao admitir que “faltou muita
coisa” o deputado reconhece que apesar de todo
o esforço realizado na época, não se conseguiu avançar
na produção de provas contra Dirceu e outros acusados.
que dá a entender. Ao admitir que “faltou muita
coisa” o deputado reconhece que apesar de todo
o esforço realizado na época, não se conseguiu avançar
na produção de provas contra Dirceu e outros acusados.
O argumento de que a liderança política de Dirceu
atrapalhou a investigação faz sentido. Também
acredito que os deputados da bancada governista
não ajudaram a investigar seu próprio governo.
Mas eu acho que isso sempre faz parte do jogo
em toda CPI, desde a Idade das Cavernas, não é mesmo?
atrapalhou a investigação faz sentido. Também
acredito que os deputados da bancada governista
não ajudaram a investigar seu próprio governo.
Mas eu acho que isso sempre faz parte do jogo
em toda CPI, desde a Idade das Cavernas, não é mesmo?
Seja pelo motivo que for, a alegação de Serraglio
coloca um problema para a acusação. Equivale ao
reconhecimento de que tem dificuldade para apresentar
provas para o julgamento.
coloca um problema para a acusação. Equivale ao
reconhecimento de que tem dificuldade para apresentar
provas para o julgamento.
Essa avaliação não é nova.
Num texto que publiquei aqui, semanas atrás, dizia
que a tese principal do mensalão, como um sistema
de compra de votos no Congresso, não estava
demonstrado no inquérito da Polícia Federal sobre o caso.
que a tese principal do mensalão, como um sistema
de compra de votos no Congresso, não estava
demonstrado no inquérito da Polícia Federal sobre o caso.
Não fui o primeiro a sustentar isso. O jornalista Lucas
Figueiredo, autor de O Operador, sobre Marcos Valério,
que fez várias revelações importantes sobre o caso, mostra que o mensalão “não foi provado”—Lucas já dizia isso em 2006.
Jânio de Freitas, um dos grandes mestres do jornalismo,
escreveu na segunda-feira que é possível sustentar
que Dirceu é o chefe do mensalão com a mesma
consistência que se poderia dizer que o chefe era
Antonio Palocci, pois não há prova alguma contra nenhum
dos dois neste caso.
escreveu na segunda-feira que é possível sustentar
que Dirceu é o chefe do mensalão com a mesma
consistência que se poderia dizer que o chefe era
Antonio Palocci, pois não há prova alguma contra nenhum
dos dois neste caso.
Esta é a questão. Muito do que se disse não
se provou. Por que?
Se você conversar com a bancada do PT, irá concluir que
não se provou porque não havia o que deveria ser provado.
O mensalão era o nome para os conhecidos esquemas
de financiamento de campanhas eleitorais.
não se provou porque não havia o que deveria ser provado.
O mensalão era o nome para os conhecidos esquemas
de financiamento de campanhas eleitorais.
Mas há explicações técnicas que ajudam a entender
porque as investigações não avançaram mais, evitando
a constatação de que faltou muita coisa,” como diz Serraglio.
porque as investigações não avançaram mais, evitando
a constatação de que faltou muita coisa,” como diz Serraglio.
Uma observação possível é que faltou um acordo para
a delação premiada. Roberto Jefferson deu grandes
entrevistas e fez ótimos discursos, mas, como disse
Fernando Henrique Cardoso, ele “teatralizou o mensalão.”
a delação premiada. Roberto Jefferson deu grandes
entrevistas e fez ótimos discursos, mas, como disse
Fernando Henrique Cardoso, ele “teatralizou o mensalão.”
Um delegado me assegura que tudo teria sido muito
diferente se Marcos Valério, em vez de perseguido de
modo implacável, tivesse recebido a oferta de salvar
a própria pele na hora certa – e passado a agir como aliado das investigações, em vez de proteger-se como acusado.
diferente se Marcos Valério, em vez de perseguido de
modo implacável, tivesse recebido a oferta de salvar
a própria pele na hora certa – e passado a agir como aliado das investigações, em vez de proteger-se como acusado.
O que ele poderia contar? Aquilo que a oposição espera?
Aquilo que o governo sustenta? Não se sabe. Seja como for,
é tarde demais.
Aquilo que o governo sustenta? Não se sabe. Seja como for,
é tarde demais.
O Supremo irá julgar o mensalão com aquilo que está nos
autos. Será um julgamento técnico e político.
autos. Será um julgamento técnico e político.
Técnico, porque não se trata de uma corte de aloprados.
E político, porque o STF tem a função de defender a
Constituição – e essa missão é política.
Quando se fala no aspecto político, pode-se pensar
em várias hipóteses. Uma delas, a que parece mais óbvia,
seria atender a um clamor contra a corrupção e contra
a impunidade.
em várias hipóteses. Uma delas, a que parece mais óbvia,
seria atender a um clamor contra a corrupção e contra
a impunidade.
Mas também é uma atitude política considerar que,
apesar deste clamor, convém afirmar outro valor,
de que é preciso julgar com isenção, a partir de provas
claras e bem fundamentadas. Este é o debate real
no julgamento.
apesar deste clamor, convém afirmar outro valor,
de que é preciso julgar com isenção, a partir de provas
claras e bem fundamentadas. Este é o debate real
no julgamento.
Leia meu artigo anterior sobre o mensalão:
http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite
/2012/05/30/verdades-incomodas-sobre-o-mensalao/
/2012/05/30/verdades-incomodas-sobre-o-mensalao/