"A imprensa deixou há
muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular." Prof. Andrew Oitke, catedrático de
Antropologia em Harvard
Por Lais Amaral
O artigo a seguir escrito pelo Blogueiro Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, reforça a reflexão sobre os mitos criados pela Velha Mídia Comercial. Oportuno.
Este
ano, uma das principais anomalias da democracia brasileira emergirá com força.
A proximidade do julgamento do “mensalão” do PT revela que, dos três pilares da
República (Executivo, Legislativo e Judiciário), um não passou pela depuração
da hegemonia conservadora oriunda da ditadura.
A
democracia tratou de equilibrar a correlação de forças políticas e ideológicas
nos Poderes Executivo e Legislativo. A renovação de quadros que os processos
eleitorais impõem a esses Poderes a cada quatro ou oito anos (neste caso, nas
eleições para o Senado Federal) permite que acompanhem os anseios da sociedade
por pluralidade.
Esse
efeito benfazejo da democracia, porém, não atinge a terceira perna do tripé que
sustenta a República, o Judiciário.
Ainda
que a cúpula desse Poder seja designada pelos poderes Executivo e Legislativo
através da indicação dos membros do Supremo Tribunal Federal pelo Executivo,
com referendo do Legislativo, o resto do corpo da Justiça brasileira ainda
sofre os efeitos de décadas a fio de controle conservador das instituições.
O
funcionamento da Justiça brasileira, no varejo, mostra seu viés conservador. Da
juíza que mandou massacrar milhares de famílias do bairro de Pinheirinho em São
José dos Campos para beneficiar um ricaço corrupto às decisões judiciais nos
Estados que atendem aos interesses das famílias midiáticas e de seus prepostos,
é claro o viés político-ideológico que distorce a Justiça.
Mesmo
no Supremo Tribunal Federal, espanta constatar como o julgamento do “mensalão”
do PT, de interesse da direita midiática, ultrapassou, temporalmente, o
julgamento de escândalos mais antigos (como o mensalão do PSDB mineiro), que se
arrastam simplesmente porque a mídia não se interessa por eles.
Bastou
a mídia fazer pressão para o julgamento do mensalão ser marcado, ultrapassando
ilegalmente casos mais antigos que se arrastam. Aí se tem a demonstração de que
mesmo em um Supremo renovado pela indicação de juízes sem vínculos políticos
como os indicados pelos governos anteriores ao de Lula, o poder de chantagem da
mídia ainda intimida a Justiça.
A
desconfiança que a sociedade nutre em relação à Justiça transparece da manchete
de primeira página da Folha de São Paulo do primeiro dia útil desta semana, que
dá conta de que a CUT pode ir às ruas protestar contra uma politização do
julgamento do mensalão que vai se tornando cada vez mais previsível.
Na
verdade, o que um dos grupos de mídia que mais intimidam o Judiciário noticia é
apenas a ponta do iceberg de um imenso movimento de resistência democrática
contra o tribunal político em que as famílias midiáticas e os partidos
políticos que controlam devem tentar converter o julgamento do mensalão, pois,
além da CUT, todos sabem que esse movimento em prol de um julgamento técnico
deve açambarcar UNE, MST e outras centrais sindicais.
Com
efeito, o julgamento do mensalão será, também, o julgamento da Justiça, pois
algumas condenações, se ocorrerem, serão inaceitáveis porque se darão sem prova
alguma. Como no caso de José Dirceu, por exemplo, que só pode sofrer alguma
condenação se o julgamento for político porque não há absolutamente nada, nesse
processo, que o incrimine.
Nas
instâncias estaduais da Justiça, então, a situação é espantosa. Desafetos dos
barões da mídia sofrem condenações absurdas nas primeiras instâncias enquanto
que essa mídia e seus peões são blindados contra qualquer reclamação pelos
abusos que cometem.
Na
Justiça paulista ou na carioca, por exemplo, qualquer um que enfrente a mídia
ou seus tenentes sabe que perderá, passando a ter alguma chance apenas nas
instâncias superiores, quando os processos deixam a Justiça estadual.
Esse
processo de partidarização e ideologização da Justiça, bem como sua
permeabilidade a pressões midiáticas, está se tornando cada dia mais
escandaloso. Jornalistas que se opõem aos partidos de direita e aos grupos de
mídia vêm sofrendo cerceamento do direito de defesa.
Recentemente,
jornalistas que incomodam a Globo foram condenados em ritos praticamente
sumários, com seus processos “andando” em uma velocidade que a Justiça
dificilmente exibe e sob decisões escandalosas que dispensam até, pasme-se,
produção de provas pelas partes, dando razão, in limine, aos prepostos da
família Marinho.
Movimentos
sociais e sociedade civil, portanto, organizam-se para denunciar ao mundo a
corrupção da Justiça pelos interesses da direita midiática. As ruas serão o
primeiro passo, mas a intenção é chegar aos fóruns internacionais, pois o
partidarismo da Justiça constitui a última grande ameaça à democracia
brasileira.