“Com
o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil
quanto ela mesma”. Joseph Pulitzer,
jornalista (há mais de um século).
"A imprensa deixou há
muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular." Prof. Andrew Oitke, catedrático de
Antropologia em Harvard
Por Lais Amaral
A entrevista do deputado Fernando Ferro do PT de
Pernambuco, dificilmente teria espaço em algum veículo da Velha Mídia
Empresarial. O corporativismo e, mais que isso, o “rabo preso”, certamente impediria.
Por isso a importância de outras mídias, como a Rede
Brasil Atual, para ratificar a necessidade da democratização dos meios de
comunicação. Abaixo a entrevista concedida pelo deputado ao Site da Rede Brasil
Atual. É nitroglicerina na veia.
São Paulo –
Depois de subir à tribuna da Câmara e dizer que a revista Veja é
“o próprio crime organizado fazendo jornalismo”, o deputado federal Fernando
Ferro (PT-PE) afirmou em entrevista à Rede
Brasil Atual que
o veículo de comunicação "fomentou, incentivou, financiou esses
delinquentes a terem esse tipo de comportamento", referindo-se à rede
ilegal de atuação do contraventor Carlinhos Cachoeira
O deputado defendeu que os responsáveis pela revista prestem
esclarecimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para
investigar a rede ilegal de atuação de Cachoeira e que sejam tratados como
réus. Escutas feitas durante a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal,
mostraram conexões entre o grupo do contraventor e o diretor da sucursal de
Brasília da publicação semanal, Policarpo Júnior.
Este mês, Veja divulgou reportagem afirmando que a CPMI é
uma "cortina de fumaça" criada pelo PT para desviar o foco do
julgamento do mensalão, que será realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A notícia levou Ferro a lamentar que a revista atue desta maneira.
Perguntado se a convocação de
representantes do Grupo Abril não afetaria a liberdade de imprensa, Ferro
afirmou que as atividades de Veja tem conexão o crime organizado, e não
com o jornalismo. Para o parlamentar, o dono da Editora Abril, Roberto Civita,
deve ser tratado como réu nessa investigação.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com o deputado
Fernando Ferro, um dos candidatos a integrar a CPMI do Cachoeira.
Por que levar um órgão de imprensa a uma CPMI?
Caberia ao órgão de imprensa trazer esclarecimentos sobre
essa relação, o porquê de tantos telefonemas identificados na investigação da
Polícia Federal.
Você falou em requerer a presença de Roberto
Civita.
Independentemente de quem seja, o
Civita ou não, os responsáveis pela Veja terão de responder sobre isso.
Há uma relação da Veja com essas atividades
ilegais?
É uma relação estranha, que tem laços
de cumplicidade com esse submundo. Na verdade, isso vem lá de trás, em vários
momentos. Essas denúncias espetaculosas da Veja,
todas elas estão sendo lastreadas por esse processo de espionagem e ‘arapongagem’.
Em termos de ética jornalística, isso é muito questionável. A Veja fomentou,
incentivou, financiou esses delinquentes a terem esse tipo de comportamento.
Isso poderia colocar em risco a liberdade de
imprensa?
A Veja tenta formar uma ideia de que nós
estaríamos querendo restringir a liberdade de imprensa. Essa é uma medida
esperta e calhorda dela de justificar a sua ação criminosa. Eles querem falar
em nome de toda a imprensa, mas não é verdade, essa prática, esse estilo, é
próprio da Veja.
Ou seja, ela praticou ações criminosas e agora quer colocar o conjunto da
imprensa no Brasil como vítima. Ela é ré, vai ter que trazer esclarecimentos à
CPI.
Há quem defenda esse tipo de jornalismo a
qualquer custo.
Essas ações da Veja têm
tudo a ver com crime organizado, não com jornalismo.
Por que no Brasil há uma tendência de punir
exclusivamente os políticos que estão envolvidos em atividades ilegais, sendo
que por diversas ela possui muitos lados?
Há uma ação política e ideológica de incriminar um partido
político, ou uma orientação, ou uma corrente política. Na verdade, não há uma
preocupação com a informação, estão preocupados em incriminar alguém que está governando
o país.
O senhor está falando da Veja,
especificamente?
A Veja criou a figura do bandido colaborador,
que é alguém que atende aos interesses dela, e o qual ela criou um nível de
promiscuidade tão grande que você nem sabe quem é mais bandido. Na verdade, os
dois são.
Em sua opinião, quem mais deve ser chamado
para depôr na CPI?
A partir da investigação da Operação Monte Carlo, você tem
os vínculos de articulação criminosa, de envolvimento entre os personagens
dessa teia criminosa, então todos eles, tanto agentes públicos quanto privados,
deverão ser chamados para prestar esclarecimentos.