sábado, 21 de janeiro de 2012

Por que o ódio da imprensa a José Dirceu ?


http://www.direitoce.com.br/


Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.   Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard

Por Laís Amaral


Artigo publicada por Conceição Lemes em 18 de janeiro na Política e republicado pelo blog Viomundo, de Luiz Carlos Azenha.

Por Gilson Caroni Filho


Em raras ocasiões, na conturbada história política brasileira, houve tamanha unanimidade em  torno de qual deve ser o destino de um ator político relevante.  

Diariamente, em colunas e editorias dos jornalões, em solenidades com acadêmicos e políticos de extração conservadora, em convescotes de  fim-de-semana da burguesia "cansada", todos os que chegam aos holofotes  da  mídia proferem a mesmíssima sentença: é preciso banir de uma vez por  todas da vida pública o ex-ministro José Dirceu.

O comando dessa unanimidade é pautado por um curioso senso de urgência.  Não há pressa para atenuar os problemas estruturais do país e suas estruturas arcaicas. Só se fala em ação imediata quando o assunto é  condenar o  “chefe da quadrilha”, montada a partir do Palácio do  Planalto para comprar apoio político no Congresso.

Poucas vezes, em um  lance da política, tantos conseguem perder ao mesmo tempo e na mesma  dimensão. Na sua sanha inquisitorial, a grande imprensa dá mostras de  pusilanimidade, de um espetáculo de fraqueza para dentro de si mesma e  de leviandade para fora. Sai em frangalhos, mas persevera no que  considera  uma questão de honra.

Pouco importa que falte materialidade e provas, é preciso requentar o  noticiário para criar condições políticas que permitam ir adiante. Mas afinal o que move o ódio a José Dirceu?

O que o torna inimigo público de um esquema de forças que, em passado recente, foi impecável em sua trajetória de encurralar o país, em nome do desvairado fundamentalismo de mercado?

Desde 2002, paira sobre Dirceu o estigma de maquiavelismo. Seria apenas um homem de poder,  basicamente orientado para sua conservação, um homem  do contingente, que não faz  política para a história?

Os fatos e o decurso do tempo respondem à acusação.  O que torna impossível à grande imprensa aceitar um retrato favorável do ex-ministro é a sua originalidade como operador político de esquerda.

        Todos sabemos que um fato notável da política brasileira é que, apesar  de sucessivos deslocamentos políticos, desde a redemocratização do país,  a hegemonia dos processos de transição encontra-se com a mesma  burguesia, condutora do golpe de 1964.

Hábil nas transações com o capital estrangeiro, das quais auferiu vantagens para fortalecimento próprio, a burguesia brasileira não foi menos sagaz no manejo do jogo  político.

Comprova-o a obra-prima que foi a eleição de Tancredo Neves (por  mecanismo antidemocrático imposto pelo regime militar), os anos Collor e  os dois mandatos de FHC.

Para termos noção do que isso representou, até o PT, oposto à coligação tancredista, não deixou de sentir a sua pressão, que lhe provocou rachaduras parlamentares e perda de apoio em setores expressivos da classe média.

Desde a política de alianças que levou Lula à presidência, em 2002, às articulações na Casa Civil, Dirceu frustrou expectativas que alimentavam  os cálculos das elites desde sempre encasteladas nas estruturas do  Estado.

O PT que chegava ao poder seria um partido atordoado por suas  divisões internas e mergulhado em indefinições estratégicas. Um desvio de curso que não teria vida longa.

A direita apostava na incapacidade do PT em administrar o pragmatismo de um estado corrupto e patrimonialista, como o nosso.

Lembram-se do Bornhausen e do Delfim? Previam, no máximo, dois anos de governo para o PT em meio a crises institucionais. Coube ao Zé Dirceu, o "mensaleiro", a função de viabilizar a governabilidade de Lula e não  permitir que esse governo fosse vítima de crises agudas e sucessivas.

Quando Dilma Vana Rousseff, oito anos depois, foi eleita a primeira  mulher presidente da República do Brasil, com mais de dez pontos de  vantagem sobre seu adversário, José Serra, muitos exaltaram a força  do  presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Do alto de seu capital político, Lula teria passado por cima do PT, escolhido sua candidata e conseguido eleger como sucessora uma ex-assessora de perfil técnico, estabelecendo um fato inédito: o terceiro mandato presidencial consecutivo para um mesmo partido eleito democraticamente.

Nada disso está incorreto, mas peca pela incompletude.  Ferido,  contundido nos seus direitos, o operador político José Dirceu teve um  papel fundamental para o aprofundamento da democracia brasileira. 

Talvez, quando o então presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, confirmou oficialmente a vitória de Dilma, Dirceu tenha cantarolado os versos de Aldir Blanc: “Mas sei / que uma dor assim pungente / não há de ser inutilmente”.

Questões de justiça são questões de princípio. Ao contrário do que  pensam a imprensa golpista, seus intelectuais orgânicos e acadêmicos  subservientes.