sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O RAP a serviço das elites




Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.   Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard
        
         Por Laís Amaral
         
        O artigo abaixo, escrito por DJ Sadam, mostra que o artista popular nem sempre é um artista antenado e com pleno conhecimento do verdadeiro papel dos elementos que o circundam. O que geralmente o torna um multiplicador de conceitos e ideais da classe dominante.

Por DJ Sadam

Este tema já foi por mim abordado no artigo “A importância do 5º elemento” mas, diante de alguns fatos novos, resolvi retomá-lo com um título mais chamativo, com o objetivo de reforçar o alerta já dado.
O rap de improviso é uma arte para poucos que têm este dom. Ao mesmo tempo em que fascina quem o ouve, aumenta em muito a responsabilidade de quem o faz.
Tenho visto diversos MCs se prestando ao papel de amplificadores da mídia burguesa, repetindo em suas rimas exatamente o que viu estampados nas páginas do jornal, ou o que ouviu no rádio ou assistiu na TV.      
Repetem sem procurar saber da veracidade dos fatos, sobre o que está por trás da veiculação das notícias e sem questionar a credibilidade dos órgãos de onde elas vêm.
O MC é um porta-voz da cultura hip-hop. Suas rimas são capazes de influenciar várias pessoas, que talvez as propaguem para outros. Então, se o sujeito lê uma notícia na capa do jornal de manhã e à noite vê um MC corroborando o que estava escrito, vai pensar: “Tá vendo, até o mano da rima tá confirmando o bagulho que tá no jornal”.
As últimas que presenciei foram de um MC enaltecendo a “faxina ética” no governo, que “tem que usar a vassoura pra varrer aquele que não tem proceder”. Parece em primeiro plano até que “Porra, Saddam! O cara não está certo?”.
Na boa intenção até que sim, pois todos somos contra a corrupção. Não fosse o machismo deste termo “faxina” – não fosse uma mulher na presidência, duvido que utilizariam este nome – e o fato da tal vassoura remeter aos tempos de Jânio Quadros, que acabaram por levar o país a mais de duas décadas de ditadura militar, até que eu levaria em conta a boa intenção.
A outra foi um MC repetindo a revista Veja e metendo o pau no ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva, que estava sendo denunciado por um coxinha, presidente de ONG, que havia sido denunciado pelo próprio ministério por desvio de verbas.
Ou seja, uma pessoa sem a menor credibilidade, sem apresentar uma única prova –  até a data de hoje o tal PM não apresentou as tais “provas irrefutáveis” que disse que tinha -, usando apenas de sua palavra, acusa e faz cair um ministro de Estado, negro, de origem humilde, que transformou um Ministério pífio em um Ministério grande, com investimentos importantes no projeto Segundo Tempo que beneficia milhares de crianças e que agora a grande mídia aproveita para jogar na vala comum todo o terceiro setor, associando patifaria ao termo ONG.
Nós do hip-hop, mais do que ninguém, sabemos da importância do trabalho das ONGs, que chegam onde o Estado não consegue chegar, levando esporte, cultura, saúde e dignidade às quebradas.
Isto não interessa à elite. Por que bancar um Segundo Tempo se esta grana poderia bancar um torneio de tênis internacional e uma etapa da Fórmula Indy??
Por que bancar o Cultura Viva, se poderiam usar esta grana para trazer várias filarmônicas, bancar vários festivais como o Rock in Rio ou rodeios em Barretos??? Por isso que falo: de boa intenção o inferno está cheio.
Desta forma, fica novamente o alerta para que o quinto elemento da cultura hip-hop, o conhecimento, seja levado a sério. Hoje, com o avanço da internet, não se pode ter apenas como parâmetro a mídia impressa e a TV.
Ouviu sobre um assunto, procure outras opiniões, procure discussões nas redes sociais e, aí sim, tire suas conclusões, pois caso contrário você estará sendo um agente da preservação do “status quo” e o hip-hop jamais se propôs a isso.
Finalizando este artigo, gostaria de parabenizar Emicida e Criolo pelas premiações no VMB deste ano. Prova contundente do crescimento do rap nacional, trilhando sua trilha independente e invadindo espaços antes a ele negado.
Como disse Emicida com muita propriedade : “É a reforma agrária da Música Popular Brasileira”. Vamos em frente!

Tenho visto diversos MCs se prestando ao papel de amplificadores da mídia burguesa