sexta-feira, 6 de abril de 2012

Esses jovens maravilhosos e sua luta por um sonho possível





Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.   Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard

Por Laís Amaral

       A encruzilhada entre democracia e ditadura do proletariado. Quando um bando de jovens resolveu enfrentar uma sanguinária ditadura colocando suas vidas como moeda na troca por um país sem tiranos.  

        A mudança de posição a partir do amadurecimento da visão cozida no calor dos porões sanguinários avalizados por militares da ditadura que emperrou o desenvolvimento do Brasil por décadas.       

       Leiam o depoimento de um dirigente da VPR e da VAR Palmares e sobrevivente da luta armada contra a Ditadura Militar instalada no Brasil em 1964. Entenda a mudança de postura dos militantes revolucionários.  

Em defesa da Dignidade *

Por Antonio Roberto Espinosa

Havia só um caminho pro Brasil depois de 1964. Para que se transformasse num empreendimento de sucesso seria preciso um chão histórico. Que teria de começar em algum momento. Se não começasse, não haveria essa comunhão de forças. Então, nós nos sentíamos predestinados a fazer isso, como se tivéssemos uma missão. Claro que os primeiros correm risco, mas seria uma coisa que seria glorificante. Nós não nos envergonhávamos do nosso tamanho, mas nos orgulhávamos da nossa ousadia.

         Claro que setecentos mais seus dois ou três mil paramilitares e mais uns quinhentos simpatizantes não iam fazer a revolução. Era um embrião do embrião. No Brasil, seria necessário haver um exército popular de 1 milhão de homens. Então, isso era nada. Disso nós tínhamos consciência. Por que não nos chamávamos partido, mas vanguarda ? Porque não existia partido no Brasil. Nós éramos só um núcleo, só um estopim.

          John Locke fala do dever do cidadão de se rebelar contra um regime tirânico, contra alguém que rompeu o contrato social. E se valeu do contrato pra oprimir. Então, é um dever destruir a tirania. Nós éramos moleques. Havia alguns operários entre nós, mas não eram maioria ; um ou outro camponês, muitos estudantes, um ou outro adulto, mas era um movimento juvenil. E nós nos sentíamos jovens politicamente deserdados pelos pais. Porque a esquerda tradicional, o Partidão não partiu pro enfrentamento com a ditadura, nem mesmo a trotskista fez isso. Então sobrou pra molecada, sobrou pra nós. Nós nos sentíamos adultos precoces. Alguns com 16, 17 anos.

         Depois, dentro da prisão nós mudamos. Nós percebemos que seria necessário um movimento mais amplo, que a democracia era um valor fundamental, que os direitos humanos era pra valer. Antes nós não tínhamos isso, éramos só socialistas. Quando a gente saiu da cadeia e os movimentos populares engrossaram nunca postulamos a direção, nada. Entramos humildemente. Não que a gente tivesse deixado de ser socialista; nosso socialismo, depois de tudo que aconteceu, tinha que ser compatibilizado com a democracia e não com a ditadura do proletariado.

         Nós passamos por essa mudança; a burocracia militar não; democracia para os militares é o povo quieto, conformado.

         Quando você decide atentar contra a propriedade, colocar uma arma na cara do bancário, que não é o dono do dinheiro, você está tomando uma iniciativa de insubordinação de natureza moral, uma iniciativa de insubordinação extrema contra a ordem, que vai além da greve que estava proibida. Como estava proibida a greve, não havia outra coisa a fazer senão a luta armada. Te tiraram tudo. Você fazia uma última luta pela defesa da sua dignidade. Era isso que sobrava.
        
Se você não pegar esse aspecto da dignidade, não dá para entender a luta armada no Brasil. O que esses moleques estavam querendo ? Dignidade.

* Livro “O Cofre do Adhemar, de Alex Solnik – Ed. Jabuticaba. Pag. 143.