quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Porque os Estados Unidos Fracassaram



O acadêmico americano, Morris Berman



        "A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro."  Noam Chomsky.

Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”. Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um século).

"A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."  Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard.



Por: Lais Amaral

Neste artigo, o jornalista Paulo Nogueira, comenta o livro “Porque os Estados Unidos Fracassaram”, do americano Morris Berman. O livro ainda não foi traduzido para o português. Bastante interessante para quem pretende conhecer um pouco mais desse país que vive sua decadência como ‘Império’, embora a Velha Mídia Comercial tente nos vender outra realidade. .  


Paulo Nogueira – 27/12/2012

Morris Berman, 67 anos, é um acadêmico americano que vale a pena ser conhecido. Acabo de ler “Porque os Estados Unidos Fracassaram”, dele.

A primeira coisa que me ocorre é: tomara que alguma grande editora brasileira 
se interesse por este pequeno – 196 páginas – grande livro.

A questão do título é respondida amplamente. Você fecha o livro com uma compreensão clara sobre o que levou os americanos a um declínio tão dramático.

O argumento inicial de Berman diz tudo. Uma sociedade em que os fundamentos são a busca de status e a aquisição de objetos não pode funcionar.

Berman cita um episódio que viu na televisão. Uma mulher desabou com o rosto no chão em um hospital em Nova York. Ela ficou tal como caiu por uma hora inteira, sob a indiferença geral, até que finalmente alguém se movimentou. A mulher já estava morta.

“O psicoterapeuta Douglas LaBier, de Washington, tem um nome para esse tipo de comportamento, que ele afirma ser comuníssimo nos Estados Unidos: síndrome da falta de solidariedade”, diz Berman.

“Basicamente, é um termo elegante para designar que não dão a mínima para ninguém senão para si próprio. LaBier sustenta que a solidariedade é uma emoção natural, mas logo cedo perdida pelos americanos porque nossa sociedade dá foco nas coisas materiais e evita reflexão interior”.

Berman afirma que você sente no ar um “autismo hostil” nas relações entre as pessoas nos Estados Unidos. “Isso se manifesta numa espécie de ausência de alma, algo de que a capital Washington é um exemplo perfeito. Se você quer ter um amigo na cidade, como Harry Truman disse, então compre um cachorro.”

O americano médio, diz ele, acredita no “mito” da mobilidade social. Berman nota que as estatísticas mostram, que a imensa maioria das pessoas nos Estados Unidos morrem na classe em que nasceram.

Ainda assim, elas acham que um dia vão ser Bill Gates. Têm essa “alucinação”, em vez de achar absurdo que alguém possa ter mais de 60 bilhões de dólares, como Bill Gates.

“Estamos assistindo ao suicídio de uma nação”, diz Berman. “Um país cujo propósito é encorajar seus cidadãos a acumular mercadorias no maior volume possível, ou exportar ‘democracia’ à base de bombas, é um navio prestes a afundar.

Nossa política externa gerou o 11 de Setembro, obra de pessoas que detestavam o que os Estados Unidos estavam fazendo com os países delas. A nossa política (econômica) interna criou a crise mundial de 2008”.

A soberba americana é sublinhada por Berman em várias situações. Ele cita, por exemplo, uma declaração de George W Bush de 1988: “Nunca peço desculpas por algo que os Estados Unidos tenham feito. Não me importam os fatos.”

Essa fala foi feita pouco depois que um navio de guerra americano derrubou por alegado engano um avião iraniano com 290 pessoas a bordo, 66 delas crianças. Não houve sobreviventes.     

Berman evoca também a Guerra do Vietnã. “Como entender que, depois de termos matado 3 milhões de camponeses vietnamitas e torturado dezenas de milhares, o povo americano ficasse mais incomodado com os protestos antiguerra do que com aquilo que nosso exército estava fazendo ? É uma ironia que, depois de tudo, os reais selvagens sejamos – nós.”

Voce pode perguntar: como alguém que tem uma visão tão crítica – e tão justificada – de seu país pode viver nele ?

A resposta é que Berman desistiu dos Estados Unidos. Ele vive hoje no México, que segundo ele é visceralmente diferente do paraíso do narcotráfico pintado pela mídia americana — pela qual ele não tem a menor admiração.

“Mudei para o México porque acreditava que ainda encontraria lá elementos de uma cultura tradicional, e acertei”, diz ele. “Só lamento não ter feito isso há vinte anos. Há uma decência humana no México que não existe nos Estados Unidos.”