Rechuan obteve vitória histórica (Diário do Vale)
Por
Lais Amaral
A total falta de sintonia com o ‘fazer política’ de
nossos dias e, coerente a essa falta de sintonia, o apego aos métodos mais
atrasados de comandar uma campanha eleitoral, foram fatores decisivos que ajudaram
a desenhar a humilhante derrota de Noel de Carvalho, distante mais de 30 mil
votos do ainda novato, José Rechuan Jr.
Fatores decisivos mas não os únicos, claro. Rechuan em
pouco mais de três anos e meio de administração despontou como um gestor talentoso.
O próprio Governador do Estado disse isso mais de uma vez, em público. Some-se
ao talentoso gestor, o cidadão carismático, cujo magnetismo pessoal encanta
adultos e crianças. E não menos importante, a sua enorme capacidade de
trabalho.
E Noel errou muito. Assessoria técnica claudicante, cegueira
para a modernidade, campanha ultrapassada baseada em ofensas pessoais ao
adversário, soberba e sabe-se lá o que mais, contribuíram diretamente para a
erosão dos pés de barro do último cacique da velha guarda da política local. Ele
não seria mesmo páreo para o herdeiro dos novos anseios, dos novos tempos.
Os comentários abaixo, publicados no Jornal Beira-Rio, bem antes do início da
campanha eleitoral, um por semana, falavam justamente dessa falta de sintonia
com os tempos atuais e geraram interpretações equivocadas.
E vieram protestos nas redes sociais e cartas ao jornal,
me acusando de rotular o “tradicional coronel”, de velho. Nunca me referi a idade de Noel. Taí o seu xará Noel de Oliveira
muito bem adaptado às novidades. A questão não é biológica, é política. Na
verdade, de quem tem mais vontade política. Seguem as notas:
Publicada na edição
de 20.01.2012
O ano eleitoral
em Resende começou. A movimentação em torno do suposto candidato de oposição,
Noel de Carvalho se reflete na bateção de lata em alguns meios de comunicação e
na tradicional rede de boatos rasteiros, muito própria da obsoleta forma de
fazer política no município e, que se imaginava extinta. E o lero-lero vai,
desde reportagens voltadas a ‘encontrar cabelo em ovo’ na administração
municipal, a ataques virulentos em folhas marronzistas, como diria Odorico
Paraguaçu, passando por redes sociais de conteúdo invariavelmente hilário e
inofensivo.
É um cenário que
aponta para uma eleição que pode, sim, ser polarizada. De um lado, o prefeito
Rechuan, natural candidato a reeleição, um político jovem, com pouco mais de
três anos de vida pública contra um experimentado político que já ultrapassou a
marca dos 40 anos nessa área, Noel de Carvalho (caso se confirme sua
candidatura).
Curioso o
destino. Confrontando duas gerações, que vindo de origens políticas distintas,
entusiasmaram seus eleitores no gênese de suas vidas públicas. Noel quando
jovem foi considerado um prefeito dinâmico. Mas tinha cepa. Seu pai tinha sido
prefeito. Rechuan, não. Iniciou sua carreira, a partir dele mesmo. Há pouco
mais de três anos era quase um nada na política local, e na eleição de 2008,
praticamente um ‘azarão’.
Em três anos
construiu um prestígio e o conseqüente reconhecimento de significativa parcela
dos munícipes. E isso embasado no talento chancelado pelo próprio governador do
Estado em recente discurso, que identificou nele “uma grata revelação de
gestor”. E sublinhou: “Rechuan é determinado, é um craque”.
A disputa, a se
confirmar, será a de duas gerações de políticos identificados e em consonância
com suas respectivas épocas. Tomara que a refrega eleitoral se limite ao
confronto político, às idéias, e não seja toldada por aqueles que ainda não
entenderam que Resende está num outro patamar. Não há mais espaço para a
política de segunda categoria. Resende cresce rápido.
Publicada na edição
de 27.01.2012
Resende, como
tantas cidades interioranas seculares, experimentou por um bom tempo, uma
realidade política polarizada. Como Barbacena, por exemplo, que viveu muito
tempo presa à rivalidade entre Bias Fortes e Andradas, Resende se viu atada ao
cara e coroa político em cujas faces da moeda estavam impressas as efígies
homônimas: Noel. O Carvalho e o Oliveira.
O município tem
DNA conservador (fazendas/Aman), mas um indiscutível viés progressista.
Certamente sua localização tem influência nisso. Essa dicotomia política ganhou
relevo durante a transição da identidade local. Os tempos mudavam e o perfil
ruralista foi dando lugar a uma urbanidade com verniz industrial (Resende tem
também potencial turístico, uma atividade que começa a caminhar rumo a sua
sistematização).
Mas como tudo tem
começo e fim, essa polarização também “fez água”. O sinal mais visível de que
algo começava a mudar, foi quando em 1992 o engenheiro Augusto Leivas, apoiado
por Carvalho, derrotou Noel de Oliveira. A tendência que apontava para o fim do
cara e coroa político-eleitoral em Resende se confirmou quatro anos depois
quando arranharam a outra face da moeda. Foi quando o médico hematologista,
Eduardo Meohas, “um forasteiro”, como diziam, deu uma surra de votos em Noel de
Carvalho.
Mas a força dos
“Noeis” não se esgotou totalmente com as derrotas. Ainda tinham cacife
eleitoral para alcançarem outros patamares: Câmara Federal (Noel de Oliveira) e
Assembléia Legislativa (Noel de Carvalho). Diferente de Leivas, que saiu da
prefeitura com baixíssimos índices de popularidade, Meohas concluiu seu mandato
bem e, com a novidade da reeleição, pode testar seu prestígio derrotando um
noviço no tabuleiro: Silvio de Carvalho. O herdeiro biológico de Noel.
Publicada na edição
de 03.02.2012
Fazer um herdeiro político parece impossível.
A história oferece exemplos. Dizem os mais céticos (ou mais pragmáticos) que
grandes caciques políticos não alimentam novas lideranças temendo serem devorados
por essas mesmas lideranças lá na frente.
Um exemplo local, contado pelos mais
velhos: Chega a eleição de 2000 e Carvalho, que perdera para Meohas em 1996,
reúne correligionários para definir a participação do grupo no pleito. Na
ocasião, alguns deles sentiam-se prontos para serem ungidos como o herdeiro
político. Conta a lenda que em reunião no Hotel Três Pinheiros, Carvalho
anunciou o filho, Silvio como o candidato.
Foi frustrante para aqueles que alimentavam
sonhos de crescer na carreira política. A preferência foi pelo herdeiro
biológico que acabou também perdendo para Meohas que inventara o slogan
axiomático: “Chega de Noeis”. Lá na frente Meohas se atrapalharia numa confusa
pendenga com seu partido, e acabou indo para a eleição de 2004 sem candidato e
saiu da cena política sem deixar herdeiros.
Oliveira é uma daquelas lideranças tão
fortes e personalistas que não arrisca herdeiros. Embora haja uma disputa
acirrada. Foi vencido em 2004 por Silvio. Na verdade, foi Oliveira que perdeu.
Os tempos são outros. Resende cresce com
uma sociedade heterogênea, uma população diversificada com gente de muitas
origens que ajudam a construir a futura principal cidade da região Sul
Fluminense, com influência no Sul de Minas Gerais e em áreas fronteiriças do
estado de São Paulo.
Resende está ligeira e quer caminhar passos
decididos. Sem titubeios. Carvalho e Oliveira continuam dando algumas cartas na
vida política da cidade. São lideranças. Oliveira é vice-prefeito e somou muito
no lastro político e de credibilidade, que deu consistência à candidatura e ao
mandato de Rechuan.
Carvalho, por seu lado, parece negar o
próprio herdeiro biológico e político, Silvio, e na contramão surge como
pretenso candidato às próximas eleições. Que dificuldade fazer herdeiros
políticos ! E o que Rechuan tem a ver com isso ? Semana que vem eu conto e fim
de papo.
Publicada na edição
de 10.02.2012
Os tempos são
outros. O país vem mudando rapidamente. Hoje o chefe do executivo administra
sob o modelito justo da camisa de força da Lei de Responsabilidade Fiscal, que
garante mais transparência e como sugere, exige mais responsabilidade do
mandatário. Bem diferente daqueles tempos em que tudo era possível e o sucessor
e a cidade herdavam o inferno.
O país já teve como
Presidente um líder sindical, por dois mandatos e agora, tem uma mulher,
inclusive ex-guerrilheira, na Presidência da República. A tecnologia leva em
suas asas a informação a todos os rincões. Alguém imaginaria isso naqueles
tempos ? O eleitor é hoje cada vez mais cidadão e menos uma ‘cabeça’ no curral
eleitoral desse ou daquele ‘coronel’.
Está cada vez
mais livre e menos súdito desta ou daquela família real, ou grupo político. Os
tempos ficaram difíceis para lideranças acostumadas à embocadura clientelista e
da política feita à base da prestidigitação e do ilusionismo. A jovem
democracia que ganha musculatura (como gostam de dizer os comentaristas
políticos da moda), exige, um outro tipo de político.
Claro que há
entulhos por aí. Mas influenciando cada vez menos e cada vez menos lembrados.
Dos tempos pós ‘cara e coroa’ política, inaugurados por Meohas, as novidades
foram Silvinho e Rechuan. Quem parece ter se identificado melhor com os novos
ares, foi justamente quem tinha e menor história política, que é o atual
prefeito José Rechuan. A meu ver, é hoje quem está mais perto de ser o herdeiro
desses novos anseios, mais afinado com os novos tempos. É a minha opinião.
Rechuan venceu a eleição de 7 de outubro de 2012 com
cerca de 74% dos votos válidos, mais de 46 mil votos, enquanto seu adversário,
Noel de Carvalho ficou com pouco mais de 15 mil votos (em torno de 24%). Uma
surra histórica.