"A
imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no
cérebro." Noam Chomsky.
“Com
o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil
quanto ela mesma”. Joseph Pulitzer, jornalista (há mais de um
século).
"A imprensa deixou há
muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular." Prof. Andrew Oitke, catedrático de
Antropologia em Harvard.
Publicado no Balaio do Ricardo Kotscho de 13/04/2013
De vez em quando, ultimamente, fico até com receio
de perder meu tempo escrevendo. O mundo já poderá ter acabado quando este
texto chegar aos caros leitores. Quem vai ler?
Sem falar na sempre iminente guerra nuclear das
Coreias, o fim do mundo está onipresente no noticiário nacional, como se
houvessem estabelecido uma programação prévia para não deixar o brasileiro
respirar sossegado dois dias seguidos.
Mal se termina de falar de uma crise e já aparece
outra nas manchetes, sem que tenha dado tempo da anterior terminar.
O ano mal começou, e já tivemos de volta as
notícias alarmistas sobre os iminentes riscos de apagão de energia em razão da
falta de chuvas nos reservatórios, ao mesmo tempo em que as enchentes em outros
pontos do país provocavam novas tragédias.
Imagens de reservatórios com pouca água e morros
despencando eram acompanhadas de análises dos "especialistas" de
sempre para quem o país, com este governo, não tem nenhum futuro, seja por
falta ou excesso de chuvas.
Nós brasileiros nem tivemos tempo de comemorar o
recorde da safra de grãos, e já começaram as séries de reportagens sobre o
colapso na infraestrutura, com estradas intransitáveis e congestionamentos nos
portos.
E assim fomos seguindo o ano de 2013, de agonia em
agonia, até que sobreveio a grande crise do preço do tomate, a maior de todas,
porque esta pode explodir ao mesmo tempo a inflação e os juros, levando o País
à ruína completa. Em apenas três meses, ficamos novamente à beira do
abismo.
Esses problemas todos existem, é claro, e alguns
são bastante sérios, como já mostramos aqui no Balaio, tornando mais difícil a
recuperação da economia.
O clima de catastrofismo, porém, vai além da
realidade dos fatos e tem como pano de fundo a sucessão presidencial de 2014,
ativada pela antecipação da campanha e pela ausência de candidatos competitivos
para enfrentar a candidata do governo.
Inconformados com os altos índices de popularidade
da presidente Dilma Rousseff, que nas atuais pesquisas lhe garantem a reeleição
já no primeiro turno, setores da sociedade que se sentiram prejudicados com a
queda de juros e tarifas, especuladores e rentistas, e todos os donos da grande
mídia, aquela gente que não se conforma com medidas que visam a beneficiar a
população de baixa renda, resolveram investir em outros campos, já que o
cenário eleitoral não lhes dá muitas esperanças de voltarem ao poder tão cedo.
Alguma coisa está fora de ordem e de lugar quando
assistimos à 'judicialização' da política e à politização do judiciário, e os
grandes protagonistas da cena brasileira se tornam o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, que agora têm uma opinião formada sobre tudo e dão seus pitacos
definitivos sobre qualquer assunto, mesmo quando não são chamados.
Eles se consideram os últimos catões da República,
os únicos e os últimos honestos num país em que ninguém mais presta, só eles.
Estão sempre de cara amarrada, não se permitem um sorriso. São as próprias
expressões do fim do mundo.
Gurgel já decidiu que a nova distribuição dos
royalties do petróleo só deverá valer a partir de 2016; Barbosa comenta a
indicação do polêmico deputado pastor Marco Feliciano para uma comissão da
Câmara, como se tivesse alguma coisa a ver com isso, e ambos se
dedicam com afinco para colocar logo na cadeia os condenados da Ação Penal 470,
recusando sumariamente qualquer recurso dos advogados de defesa.
Citado pelo ex-ministro José Dirceu numa história
no mínimo muito malcontada, no episódio da sua indicação para o STF, o ministro
Luiz Fux manda um assessor responder que não vai polemizar com réus condenados.
Na mesma semana, o procurador-geral Gurgel
determina ao Ministério Público e à Polícia Federal investigações sobre o
ex-presidente Lula, a partir de declarações feitas por Marcos Valério, após o
réu ser condenado a mais de 40 anos de prisão.
Princípios e valores variam conforme os interesses
de ocasião. E tudo parece muito natural para a nossa imprensa.
No mesmo momento em que Barbosa denuncia o
"conluio" entre advogados e magistrados, o escritório de Sergio
Bermudes, um dos mais caros do país, anuncia o patrocínio de uma festa de
arromba para mais de 300 pessoas em seu apartamento de 800 metros quadrados, no
Rio de Janeiro, para comemorar o aniversário de 60 anos do mesmo
ministro Luiz Fux, cuja filha Marianna, candidata a uma vaga no
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, trabalha com o anfitrião.
A pedido da mãe do homenageado, diante da
repercussão negativa do badalado regabofe, a festa foi cancelada, segundo
os jornais deste sábado. Menos mal.
Mas não faltarão, certamente, outras festas do
gênero, por mais que isso irrite ou agrade Barbosa, recentemente homenageado no
Copacabana Palace pelos mesmos donos da mídia que publicam artigos de Marianna
Fux e louvam seu pai, para congregar os comensais dos dois lados do balcão da
Casa Grande, que podem perder as eleições e a vergonha, mas nunca perdem a
pose nem o poder.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Este
é o mundo deles, com ou sem perucas, e o resto que se dane, como costumam
dizer, desde os tempos dos bailes da Ilha Fiscal.