“Com
o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil
quanto ela mesma”. Joseph Pulitzer,
jornalista (há mais de um século).
"A imprensa deixou há
muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular." Prof. Andrew Oitke, catedrático de
Antropologia em Harvard
Por Lais Amaral
O jornalista Josias de Souza comenta a pesquisa do
Instituto Data Folha, divulgada no fim da semana passada (22/04) que além de
demonstrar mais um recorde de aprovação do Governo Dilma, revelou que o
prestígio de Lula continua intacto junto à maioria da população.
Josias de Souza
Saiu mais uma pesquisa do Datafolha. Tomada pela
fachada, faz reluzir o já sabido: a popularidade do governo Dilma sobe. Foi de
59% em janeiro para 64% agora. Tomada pelo miolo, acende uma luz no fim do
túnel da oposição. Luz vermelha. São três os dados que piscam para os
antagonistas do petismo:
1. Perguntou-se ao meio-fio quem deve disputar a
Presidência em 2014: Dilma ou Lula? A maioria (57%) prefere Lula a Dilma (32%).
Para 6%, nenhum dos dois deveria disputar. Outros 5% não souberam responder.
Ficou entendido que, se quiser e a laringe deixar, o ex-soberano continua na
pista.
2. Indagou-se ao asfalto como votaria se o segundo turno de
2010 se repetisse hoje. Descobriu-se que os 56,05% amealhados por Dilma há um
ano e cinco meses viraram 69%. E os 43,95% obtidos por Serra murcharam para
21%. Quer dizer: se Lula não quiser ou não puder, a pista é de Dilma.
3. Entre os eleitores que dizem ter votado em Serra, 52%
avaliam a gestão Dilma como ótima ou boa. Entre os que se apresentam como
simpatizantes do PSDB, a taxa de aprovação da presidente do PT vai a 60%. Ou
seja: no pedaço do eleitorado mais afeito ao tucanato, a maioria caiu de amores
por Dilma.
Nos últimos tempos, a oposição mata o tempo perguntando a
si mesma –e não respondendo— que diabo, afinal, está fazendo neste mundo.
Considerando-se os dados da sondagem, a resposta é nada. Frequenta a cena como
visita. Quem tenta dar-lhe ouvidos ou escuta o silêncio ou não entende o que
ouve.
Já se sabia que falta discurso à oposição. Descobriu-se
que não será fácil arranjar um. A idéia segundo a qual um candidato como Aécio
Neves pode apresentar-se como melhor alternativa “a tudo isso que está aí”
demanda uma pré-condição: a pregação não pode agredir a agredir a realidade.
Por exemplo: o Datafolha informa que 49% dos eleitores
acham que a situação econômica do país vai melhorar. Outros 39% avaliam que a
coisa ficará como está. Apenas 13% apostam que o cenário vai degringolar. Em
junho do ano passado, 51% imaginavam que os preços subiriam. Hoje, esse
contingente caiu para 41%.
Primeiro da fila do PSDB, Aécio prevê que a crise
internacional reserva dias piores para o Brasil. Ainda que o tempo lhe dê
razão, se disser em público o que rumina em privado será visto não como
alternativa, mas como mais um membro do clube do ‘quanto pior melhor’.
Por ora, o que a maioria vê nas gôndolas é a carestia
contida. No Banco Central, vê-se a faca dos juros. No Planalto, desponta uma
presidente que ordena às casas bancárias estatais que ofereçam taxas menores à
clientela e abre guerra contra a banca privada para forçá-la a fazer o mesmo.
Como se fosse pouco, o discurso da moralidade, que já
fazia água, acaba de ser engolfado pelo Cachoeira. Demóstenes Torres, que se
imaginava nascido para nadador, revelou-se um afogado. Há Agnelos com água pelo
nariz. Mas também há Marconis. De uma correnteza assim, tão plural, pode
emergir muita coisa, menos um discurso.
Em 2010, a oposição compensava a falta do que dizer
superstimando a “ausência de candidato” do PT. Lula elegeu sua poste. A dois
anos e meio de 2014, o tucanato e Cia. continuam sem saber o que dizer. A
diferença é que o petismo agora tem dois candidatos: a pupila e seu patrono.
O Datafolha informa que a oposição brasileira foi
transferida da enfermaria para a UTI. Vale repetir o velho bordão: pesquisa não
é senão o retrato de um momento. Significa dizer que seria uma imprudência
decretar em 2012 o resultado de 2014.
Algo, porém, é inegável: a oposição está diante de uma
encrenca que lhe nega o papel que julga desempenhar melhor. O tucanato pode
continuar dizendo que veio ao mundo como exemplo. Falta descobrir de quê.
O Plano Real é sonho velho. A estabilidade econômica foi
como que apropriada por Lula. Ou a oposição coloca de pé uma utopia nova ou vai
continuar arrastando a bola de ferro que torna os seus candidatos os mais
cotados para fazer de um petista o próximo presidente da República.