“Com
o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil
quanto ela mesma”. Joseph Pulitzer,
jornalista (há mais de um século).
"A imprensa deixou há
muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular." Prof. Andrew Oitke, catedrático de
Antropologia em Harvard.
Por Lais Amaral
No artigo abaixo, postado pelo blogueiro Eduardo Guimarães, dia 26/06, no seu Blog da Cidadania, ficamos conhecendo um pouco mais sobre os motivos do Golpe contra o Presidente paraguaio Fernando Lugo, na semana passada.
No centro de São Paulo, na região da Praça Princesa Isabel,
no bairro de Campos Elíseos, no fim da tarde, nos salões acanhados das agências
de empresas de ônibus que fazem transporte de passageiros ao Paraguai, o
movimento é frenético.
Os ônibus chegam às paradas bem antes da partida a fim de
ser carregados com grande quantidade de mercadorias.
As
empresas de ônibus são paraguaias, argentinas e também brasileiras. Há uma meia
dúzia de agências dessas empresas na região.
Atualmente, boa parte dessas mercadorias (tecidos, roupas,
calçados, material de construção, material elétrico etc.) passa normalmente
pelo lado brasileiro do controle de fronteira com o Paraguai e, ao chegar do
lado de lá, paga imposto.
As coisas mudaram muito de 2009 para cá. Então, muito
pouco do que era embarcado nos ônibus do lado brasileiro passava efetivamente
pela aduana paraguaia.
Os ônibus faziam paradas em Foz do Iguaçu para descarregarem
a mercadoria e ela seguia em vans e barcos por caminhos alternativos até país
vizinho. Sem pagar nada.
O
comércio ilegal de mercadorias e o tráfico de armas e drogas sofreu um grande
golpe com a chegada de Fernando Lugo ao poder.
Em fevereiro de 2011, por exemplo, em reunião celebrada na
capital paraguaia, Asunción, Lugo anunciou a criação de uma coordenadoria
especial para combater o contrabando e o descaminho nas fronteiras do país.
O objetivo
da coordenadoria de entidades como a Direção Nacional das Aduanas, o Ministério
da Indústria e Comércio e o Ministério da Fazenda era frear a invasão de
produtos contrabandeados dos países vizinhos para o Paraguai ou deste rumo aos
países limítrofes, sobretudo Brasil e Argentina.
À
época, a seguinte declaração de Lugo (abaixo) provocou a ira do empresariado
paraguaio e dos amplos setores daquela sociedade que têm no contrabando uma das
mais importantes fontes de receita:
“Como vocês sabem, a luta contra o contrabando,
fundamentalmente, faz alusão ao comércio exterior, tanto de importação como de
exportação.
Com esta comissão, que irá reunir-se mensalmente para
coordenar planos específicos, esperamos poder reduzir este flagelo que afeta
nosso país. A ideia aqui é tomar o tema em sua totalidade, porque sabemos
também que, por trás dos pequenos contrabandistas, há grandes mentores, que são
os beneficiários finais do processo. Os pequenos estão envolvidos, somente,
como forma de subsistência”
Todos
os que conhecem o Paraguai sabem que “importar” mercadorias e insumos “en
negro” sempre foi prática da quase totalidade do grande, do médio e até do
pequeno empresariado daquele país.
As empresas têm dois caixas e os fiscais do governo sempre
foram facilmente corruptíveis.
Lugo
combateu também, por exemplo, leis que permitiam trazer carros roubados no
Brasil e legalizá-los do lado Paraguaio. Ou seja: o sujeito roubava o veículo
do lado de cá, entrava no país vizinho, ia até a “Alcaldia” (prefeitura) e
obtinha documentação e emplacamento.
Simples assim. Era prática que funcionava também na Bolívia.
Lugo e Evo Morales acabaram com a festa.
Ainda
assim, a corrupção desbragada que vige no Paraguai ainda permite “legalizar”
carros roubados no Brasil. Mas essa prática deixou de ser institucionalizada.
Outra
medida de exceção estabelecida por Lugo foi dar liberdade de ação aos militares
para promover prisões, buscar e combater grupos armados vinculados ao movimento
de guerrilha Exército do Povo do Paraguai (EPP), acusado de manter vínculos com
as FARC e com o crime organizado atuante na fronteira com o Brasil.
O
estado de exceção foi decretado pelo governo paraguaio em cinco departamentos
(estados) e evidenciou a atividade criminosa na região da fronteira.
A
rentabilidade que o mercado negro gera a setores da sociedade paraguaia e a
redes poderosas do crime organizado possuem vastas ramificações nas
instituições daquele estado nacional, dominando decisões nos níveis
Legislativo, Executivo e Judiciário.
A corrupção, o contrabando e o tráfico são instituições
paraguaias que Lugo tentou combater.
Quem
conhece o Paraguai sabe do clima de revolta entre os setores que sempre se
beneficiaram desse estado de coisas.
O presidente anterior a Lugo, Nicanor Duarte, tinha ligações
escancaradas com o contrabando. Ligações que até os postes da avenida Eusebio
Ayala, em Assunção, onde o contrabando vai à venda, conhecem.